tag:blogger.com,1999:blog-345899362024-03-25T10:58:26.564-03:00Bocas do TempoPílulas de Eduardo Galeano e congêneres.Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.comBlogger42125tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-61714093398070219152011-05-17T01:21:00.002-03:002011-05-17T01:35:19.886-03:00Barthes, Galeano e as flores de Nelson Rodrigues<div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">Inspirado pelo grande amigo Gustavo "Pirulito" Trancho, que deixou uma citação de Barthes (reproduzo abaixo) no Facebook e me fez recordar essa história, contada no livro mais acalentador - como um abraço deve ser - de Eduardo Galeano.</div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i><br />
</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i><b><span style="font-size: large;">As flores</span></b></i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i><br />
</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i>O escritor brasileiro Nelson Rodrigues estava condenado à solidão. Tinha cara de sapo e língua de serpente, e a seu prestígio de feio e sua fama de venenoso somava-se a notoriedade de seu contagioso azar: as pessoas ao seu redor morriam de tiro, miséria ou infelicidade fatal.</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i><br />
</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i>Certo dia, Nelson conheceu Eleonora. Naquele dia, dia do descobrimento, quando pela primeira vez viu aquela mulher, uma violenta alegria atropelou-o e deixou-o abobado. Então, quis dizer alguma de suas frases brilhantes, mas as pernas bambearam e a língua se enrolou e não conseguiu outra coisa a não ser gaguejar ruidinhos.</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i><br />
</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i>Bombardeou-a de flores. Mandava flores para o apartamento dela, no alto de um edifício do Rio de Janeiro. A cada dia mandava um grande ramo de flores, flores sempre diferentes, sem repetir jamais as cores ou aromas, e ficava esperando lá embaixo: lá de baixo via a varanda de Eleonora, e da varanda ela atirava as flores na rua, todos os dias, e os automóveis as esmagavam.</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i><br />
</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i>E foi assim durante cinquenta dias. Até que um dia, um meio-dia, as flores que Nelson enviou não caíram na rua e não foram pisadas pelos automóveis.</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i><br />
</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><i>Naquele meio-dia, ele subiu até o último andar, apertou a campainha e a porta se abriu.</i></div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">(Eduardo Galeano - O Livro dos Abraços)</div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">*****</div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">"La identidade fatal del enamorado no es otra más que ésta: yo soy el que espera. Un mandarín estaba enamorado de una cortesana. 'Seré tuya, cuando hayas pasado cien noches esperándome sentado sobre un banco, en mi jardín, bajo mi ventana.' Pero, en la nonagesimonovena noche, el mandarín se levanta, toma su banco bajo el brazo y se va."</div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">(Roland Barthes - Fragmentos de un discurso amoroso)</div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><br />
</div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">*****</div><div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">PS: Se Nelson Rodrigues tivesse usado <a href="http://www.flickr.com/photos/rogeriotomazjr/3149333482/lightbox/"><b>lírios laranjas</b></a>, talvez esperasse menos.</div><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">PS2: Postado ao som perene da <a href="http://brasiliamaranhao.wordpress.com/2011/05/17/musica-21-beatles/"><b>Música do Dia do Conexão Brasília Maranhão</b></a>. </span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com27tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-74270809416109580222010-12-15T03:32:00.005-02:002010-12-15T03:44:41.676-02:00O parricídioDedicado à Léa, que foi questionada, por colombianos:<br />
<br />
- Por quê o seu amigo quer uma camisa da seleção colombiana de futebol?<br />
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Se não tivesse existido em nenhum dia além daquele 5 de setembro de 1993, o futebol da Colômbia já mereceria seu lugar na galeria das mais memoráveis exibições já feitas na história do esporte mais popular do planeta.<br />
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Eduardo Galeano (d)escreve melhor aquele episódio.<br />
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<b>O parricídio</b><br />
No final do inverno de 1993, a seleção colombiana jogou em Buenos Aires uma partida de classificação para o Mundial. Quando os jogadores colombianos entraram em campo, foram vaiados, insultados. Quando saíram, o público despediu-se deles de pé, com uma ovação que até hoje é escutada.<br />
<br />
A Argentina perdeu por 5 a 0. Como de costume, foi o goleiro que carregou a cruz da derrota, mas a vitória alheia foi celebrada como nunca. Por unanimidade, os argentinos agradeceram ao prodigioso jogo colombiano, gozo das pernas, prazer dos olhos: uma dança que ia criando, com coreografia mutante, sua própria música. A autoridade do Pibe Valderrama, um mulato plebeu, dava inveja aos príncipes, e os jogadores negros eram os reis da festa: ninguém passava por Perea, não havia quem detivesse o Trem Valencia, não havia quem pudesse com os tentáculos do Polvo Asprilla e não havia quem agarrasse os tirambaços de Rincón. Pela cor da pele e a cor da alegria, aquele parecia um time do Brasil dos melhores tempos.<br />
<br />
Os colombianos chamaram aquela goleada de parricídio. Meio século antes, tinham sido argentinos os pais do futebol em Bogotá, Medellín ou Cali. Mas Pedernera, Di Stéfano, Rossi, Rial, Pontoni e Moreno tinham gerado um filho de tipo mais brasileiro, por causa das tais coisas da vida.<br />
<br />
[Eduardo Galeano, <i>Futebol ao sol e sombra</i>] <br />
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*****<br />
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Repito sem dó: aquela foi uma das maiores exibições da história do futebol. E para quem não sabe da minha paixão pela Argentina, leia isso:<br />
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<a href="http://brasiliamaranhao.wordpress.com/2010/07/01/e-por-isso-que-torco-pela-argentina/"target="_blank">http://brasiliamaranhao.wordpress.com/2010/07/01/e-por-isso-que-torco-pela-argentina/</a><br />
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<a href="http://brasiliamaranhao.wordpress.com/2010/07/05/esses-sao-os-argentinos/"target="_blank">http://brasiliamaranhao.wordpress.com/2010/07/05/esses-sao-os-argentinos/</a><br />
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<a href="http://brasiliamaranhao.wordpress.com/2010/07/01/para-entender-a-paixao-argentina-pelo-futebol/"target="_blank">http://brasiliamaranhao.wordpress.com/2010/07/01/para-entender-a-paixao-argentina-pelo-futebol/</a><br />
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O vídeo você pode assistir aqui:<br />
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<b>Argentina 0x5 Colômbia (05/09/1993)</b> <br />
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<object height="385" width="480"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/MyvnXemunk0?fs=1&hl=pt_BR"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/MyvnXemunk0?fs=1&hl=pt_BR" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGThadhOuWXF6_y6HF3aiU2dAgv86OirnDmhu_OBMF2US8L5ETB1OHYJH5vTXDgopzWiftMei-60SNPUcfEFU57yMdWubr_1gSaiJ-f-gBuRdcWQ-LA-xSF5Ha_rleaqQ6olFvwA/s1600/valderrama_argentina.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="253" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGThadhOuWXF6_y6HF3aiU2dAgv86OirnDmhu_OBMF2US8L5ETB1OHYJH5vTXDgopzWiftMei-60SNPUcfEFU57yMdWubr_1gSaiJ-f-gBuRdcWQ-LA-xSF5Ha_rleaqQ6olFvwA/s320/valderrama_argentina.jpg" width="320" /></a></div>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-78277828680147311052010-03-09T06:33:00.003-03:002010-03-09T06:51:50.622-03:00É proibido ser curioso<span style="font-style: italic; font-family: trebuchet ms;">O conhecimento é pecado. Adão e Eva comeram os frutos dessa árvore; e aconteceu o que aconteceu.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-family: trebuchet ms;">Algum tempo depois, Nicolau Copérnico, Giordano Bruno e Galileu Galilei sofreram castigo por terem comprovado que a Terra gira ao redor do sol.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-family: trebuchet ms;">Copérnico não se atreveu a publicar a escandalosa revelação, até sentir que a morte estava muito perto. A Igreja Católica incluiu sua obra no índex dos livros proibidos.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-family: trebuchet ms;">Bruno, poeta errante, divulgou pelos caminhos a heresia de Copérnico: o mundo não era o centro do universo, mas apenas um dos astros do sistema solar. A Santa Inquisição trancou-o durante oito anos num calabouço. Várias vezes ofereceram-lhe o arrependimento, e várias vezes Bruno se negou. Esse cabeça-dura foi enfim queimado, diante da multidão, no mercado romano de Campo dei Fiori. Enquanto ardia, aproximaram um crucifixo aos seus lábios. Ele virou o rosto.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-family: trebuchet ms;">Alguns anos depois, explorando o céu com as trinta e duas lentes de aumento do seu telescópio, Galileu confirmou que o condenado tinha razão.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-family: trebuchet ms;">Foi preso por blasfêmia.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-family: trebuchet ms;">Nos interrogatórios, desmoronou.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-family: trebuchet ms;">Em voz alta jurou que amaldiçoava quem acreditasse que o mundo se movia ao redor do sol.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-family: trebuchet ms;">E baixinho murmurou, dizem, a frase que lhe deu fama eterna.</span><br /><br /><span style="font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 102); font-family: trebuchet ms;">Por Eduardo Galeano. "Espelhos - uma história quase universal".</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">*****</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Dedicado - e publicado com largo atraso - ao Giordano Bruno, filhinho da querida amiga Dillian, a quem ainda devo uma visita para conhecer o seu fofucho, prestes a completar dois aninhos de vida!</span><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7nSOM7YNHIOXr9gdzQan0SiixtEwr3cbG5E9dMDP1UE780pWb6dX4BUHyUfrvU7C07C9cu-KFc2igrnx_SeDRPOfpePlVmvIPaeG7C7VKrWRpXpizjtvQg5R2-FKj1C6fa2uuGQ/s1600-h/dillian_giordano.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 214px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7nSOM7YNHIOXr9gdzQan0SiixtEwr3cbG5E9dMDP1UE780pWb6dX4BUHyUfrvU7C07C9cu-KFc2igrnx_SeDRPOfpePlVmvIPaeG7C7VKrWRpXpizjtvQg5R2-FKj1C6fa2uuGQ/s320/dillian_giordano.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5446569053442414978" border="0" /></a>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-81478073880621598852009-05-30T17:28:00.008-03:002009-12-01T22:18:26.415-02:00Eduardo Galeano sobre BenedettiEscrevi sobre a passagem de Benedetti no <a href="http://brasiliamaranhao.wordpress.com/2009/05/18/mario-benedetti-nos-deixou/" target="_blank"><span style="font-weight: bold;">Conexão Brasília Maranhão</span></a>.<br /><br />O vídeo abaixo, curtinho, 54 segundos, mostra Galeano falando sobre o amigo. Sem mais. Assista.<br /><br /><object width="340" height="285"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/4GPlxNFCq8c&hl=pt-br&fs=1&rel=0&color1=0x2b405b&color2=0x6b8ab6&border=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/4GPlxNFCq8c&hl=pt-br&fs=1&rel=0&color1=0x2b405b&color2=0x6b8ab6&border=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="340" height="285"></embed></object>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-89432972152108898782009-03-17T12:29:00.013-03:002009-03-17T13:36:52.043-03:00Perigo no ar - mulheres em luta!<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.ereg.com.br/imagens/MargaridaAlves.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 173px; height: 202px;" src="http://www.ereg.com.br/imagens/MargaridaAlves.jpg" alt="" border="0" /></a>Ontem foi divulgado o resultado da terceira edição do Prêmio Margarida Alves de Estudos de Rurais e Gênero, modalidade Ensaio Acadêmico.<br /><br />É uma bela iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário (<a style="font-weight: bold;" href="http://www.mda.gov.br/aegre" target="_blank">MDA</a>). Homenageia a grande lutadora <a style="font-weight: bold;" href="http://www.dhnet.org.br/dados/relatorios/dh/br/jglobal/redesocial/redesocial_2001/cap3_impunidade.htm" target="_blank">Margarida Alves</a> e estimula o debate sobre as questões de gênero no campo, tão sufocadas pelo machismo dominante quanto as próprias mulheres em sua realidade cotidiana.<br /><br /><a style="font-weight: bold;" href="http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=1629" target="_blank">Pesquisa</a> da Fundação Perseu Abramo aponta que <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">uma em cada cinco brasileiras já foi vítima de violência doméstica</span>.<br /><br />E <span style="font-weight: bold; font-style: italic;">a cada quinze segundos uma mulher é espancada</span> no país que trata como mercadoria o corpo feminino e "enaltece" uma parte específica dele como "preferência nacional", tomando por "nacional" a preferência de menos da metade da população.<br /><br />Margarida, além desse tipo de violência física e simbólica do dia-a-dia, também foi vítima da política dos senhores da Casa Grande, que hoje tentam disfarçar suas práticas posando de modernos empresários, sob a alcunha de <a style="font-weight: bold; font-style: italic;" href="http://www.reporterbrasil.org.br/imprimir.php?id=56&escravo=1" target="_blank">agronegócio</a>.<br /><br />Ontem fui à reunião que definiu os resultados do prêmio (matéria <a style="font-weight: bold;" href="http://www.mda.gov.br/portal/index/show/index/cod/134/codInterno/20427" target="_blank">aqui</a>) e, quando a conversa abordou a violência doméstica, lembrei do texto abaixo, lido há poucos dias.<br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153); font-weight: bold;">Perigo no ar</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);">A rádio de Paiwas nasceu no centro da Nicarágua, às vésperas do século XXI.</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);">O programa de maior audiência ocupa as madrugadas: “A bruxa mensageira” acompanha milhares de mulheres e mete medo em milhares de homens.</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);">Às mulheres, a bruxa apresenta amigos desconhecidos, como esse tal de Papanicolau e a senhora Constituição. E fala de seus direitos, <span style="font-style: italic;">violência zero na rua, na casa e também na cama,</span> e pergunta a elas:<br /><br /></span><span style="color: rgb(0, 0, 153); font-style: italic;">- Como foi sua noite? Como foi tratada? Deu com prazer ou foi meio à força?</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);">E os homens são denunciados com nome e sobrenome quando violam ou batem em suas mulheres. Pelas noites, a bruxa vai de casa em casa, em vôo de vassoura; e nas madrugadas, acaricia sua bola de cristal e adivinha segredos na frente do microfone:</span><span style="font-style: italic;"><br /><br /></span><span style="color: rgb(0, 0, 153); font-style: italic;">- Ahá! Você está por aí, estou vendo você por aí! Batendo na sua mulher. Que barbaridade, que horror!</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);">A rádio recebe e difunde as denúncias que os policiais não atendem. Os policiais estão ocupados com os ladrões de gado, e uma vaca vale mais que uma mulher.</span><br /><br />Eduardo Galeano, Espelhos – uma história quase universal<br /><br />Dedicado à queridíssima Mariana Pires, amiga e companheira de luta nas trincheiras da comunicação e das mulheres, que estudou um programa feito por mulheres na atormentada Zona da Mata de Pernambuco.<br /><br />Não posso deixar de lembrar o belo texto <a href="http://bocasdotempo.blogspot.com/2007/08/cinco-mulheres.html" target="_blank">"Cinco mulheres"</a>, sobre uma das ações históricas da guerreira boliviana Domitila Chungara e suas companheiras.<br /><br />*****Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-73492908818986426702009-03-15T14:38:00.015-03:002009-03-17T18:54:47.349-03:00Ateu graças a deus<div style="text-align: justify;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoaGKLZ22BIRrav21wQg2Nd63rxO6tv-Lfs3P7xj1WCAW0nOIXkQF9ETdielCdJXHfuxMLqw6wL40X9ocDp5TgrLnPA90ZbhNx_Ad4xmhA4AcK4fXwnFgfGY96k4fkNAQXQ9MvrQ/s1600-h/deus.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 200px; height: 145px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoaGKLZ22BIRrav21wQg2Nd63rxO6tv-Lfs3P7xj1WCAW0nOIXkQF9ETdielCdJXHfuxMLqw6wL40X9ocDp5TgrLnPA90ZbhNx_Ad4xmhA4AcK4fXwnFgfGY96k4fkNAQXQ9MvrQ/s200/deus.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5314278385646225314" border="0" /></a><span style="font-family:trebuchet ms;">Aos nove anos, iniciei um curso para me tornar coroinha. Estudava numa escola de freiras bastante tradicional no bairro onde vivia em Fortaleza. A entrada no curso era motivo de prestígio entre as crianças.</span><br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Não fui longe, uma ou duas semanas. Minha mãe percebeu os interesses, digamos, pouco louváveis do instrutor. Meses depois, ele seria expulso da igreja por ter praticados atos conhecidos por um nome que eu só escutaria pela primeira vez muitos anos depois: pedofilia.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas o primeiro desgosto real com a religião - particularmente com a Igreja Católica - veio apenas na sexta série, nas aulas de História, da professora Ana Lourdes. Descobri que os (auto-proclamados) representantes de Deus queimaram vivos milhares de pessoas e livros na Idade Média. O crime: idéias divergentes dos dogmas da instituição que chegou a ser proprietária de um terço de todas as terras da Europa. Para um menino de doze anos que era apaixonado por qualquer tipo de livro e adorava conhecer novas e diferentes idéias, aquilo era uma grave contradição.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Passou o tempo e hoje posso afirmar que as pessoas mais virtuosas e de espiritualidade mais latente que conheço não acreditam em deuses, tampouco em religiões monoteístas.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Num momento em que um bispo <a style="font-weight: bold;" href="http://jc.uol.com.br/canal/cotidiano/pernambuco/noticia/2009/03/06/arcebispo-considera-aborto-mais-grave-que-estupro-181152.php" target="_blank">afirma</a> enfaticamente que o aborto é algo muito mais grave do que o estupro de uma criança de nove anos, a minha convicção no ateísmo é reconfortada. Como dizia o grande mestre Caldeira, a quem dediquei minha monografia de graduação: "Sou ateu graças a deus!".</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Vale muito ler o texto abaixo.</span><br /><br /><span style="font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Um pai que não ri nunca</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Os judeus, os cristãos e os muçulmanos veneram a mesma divindade. É o deus da Bíblia, que responde a três nomes, Yahvé, Deus e Alá, conforme quem o invoque. Os judeus, os cristãos e os muçulmanos matam-se entre si dizendo que obedecem às suas ordens.</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Entre as outras religiões, os deuses são ou foram muitos. Números olimpos existiram e existem na Grécia, na Índia, no México, no Peru, no Japão, na China. E ainda assim, o deus da Bíblia é ciumento. Ciumento de quem? Por que se preocupa tanto com a competência, se Ele é o único e verdadeiro?</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Não te prostrarás diante de nenhum outro deus, pois Yahvé se chama Ciumento, é um Deus ciumento. (Êxodo)</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Por que castiga nos filhos, e por várias gerações, a infidelidade dos pais?</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Eu, Yahvé, teu Deus, castigo a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e a quarta geração dos que me odeiam. (Êxodo)</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Por que está sempre tão inseguro? Por que desconfia tanto de seus devotos? Por que necessita ameaçá-los para que o obedeçam? Falando ao vivo e diretamente, ou pela boca dos profetas, adverte:</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Se não obedeces à voz de Yahvé, teu Deus, ele te ferirá de tísica, de febre, de inflamação, de gangrena, de aridez. Esposarás uma mulher, e outro homem a fará dele. Pó e areia serão a chuva da tua terra. Semearás em teus campos muita semente, mas a secará o gafanhoto. Plantarás vinhedos, mas não beberás vinho, porque os vermes os devorarão. Vos oferecereis à venda a vossos inimigos como escravos e escravas, mas não haverá comprador. (Deuteronômio)</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Durante seis dias se trabalhará, mas o sétimo será sagrado para vós, dia de descanso completo em louvor a Yahvé. Qualquer um que trabalhe nesse dia morrerá. (Êxodo)</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Aquele que blasfemar o nome de Yahvé será morto. A comunidade inteira o apedrejará. (Levítico)</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Mais eficazes são os castigos que as recompensas. A Bíblia é um catálogo de espantosos castigos contra os incrédulos:</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Soltarei contra vós as feras selvagens. Vos açoitarei sete vezes mais pelos vossos pecados. Comereis a carne de vossos filhos, comereis a carne de vossas filhas. Desembainharei a espada contra vós. Vossa terra será sempre um ermo e vossas cidades uma ruína. (Levítico)</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Esse Deus sempre zangado domina o mundo do nosso tempo através de suas três religiões. Não é lá um Deus muito amável, digamos:</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Deus ciumento e vingador, Yahvé, rico em ira! Se vinga de seus adversários, guarda rancor de seus inimigos. (Nahum)</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Seus dez mandamentos não proíbem a guerra. Ao contrário: Ele manda fazer a guerra. E a sua é uma guerra sem piedade por ninguém, nem mesmo pelos bebês:</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Não tenhas compaixão pelo povo de Amalec. Matarás homens e mulheres, crianças e lactantes, bois e ovelhas, camelos e asnos... (Samuel)</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 153);font-family:trebuchet ms;" >Filha de Babel, devastadora: feliz aquele que agarrar teus pequenos e os despedaçar contra as rochas! (Salmos)</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eduardo Galeano, "Espelhos - uma história quase universal"<br /><br />Como canta a rapazeada do Eddie, "Eu só poderia crer no deus que confiasse em agitador ou em mestre de obras". A letra está <a style="font-weight: bold;" href="http://letras.terra.com.br/eddie/401348/" target="_blank">aqui</a>. E a música, <a style="font-weight: bold;" href="http://www.4shared.com/file/93067919/2dcfcb0/Eddie_-_Sonic_Mambo_-_08_-_Eu_S_Poderia_Crer.html" target="_blank">aqui</a>.<br /><br /><span style="font-size:85%;">PS: a imagem é de Michelangelo, num afresco da Capela Sistina.</span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:trebuchet ms;">PS2: Se você também quiser ser excomungado pelo bispo de Olinda, escreva e faça o pedido diretamente a ele: </span></span></span><span style="font-weight: bold;font-size:85%;" ><span style="font-family:trebuchet ms;">arcebispo@arquidioceseolindarecife.org.br </span></span><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:trebuchet ms;">(aproveite e mande esse post pra ele)</span></span><br /><span style="font-size:85%;"><span style="font-family:trebuchet ms;">PS3: Não confunda ateísmo com agnosticismo. Pessoalmente, tenho muita afinidade (e curiosidade) pelo espiritismo - fruto de convivência e influência familiar - e pelas religiões de matriz africana - resultado de leituras (sobretudo alguns textos de Steve Biko) e convivências.</span></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />*****<br /><br /></span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-72745958753495348562009-03-02T23:04:00.004-03:002009-03-03T00:23:23.722-03:00A Marselhesa<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.estacio.br/rededeletras/numero4/allons_enfants/img/mar.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 119px; height: 196px;" src="http://www.estacio.br/rededeletras/numero4/allons_enfants/img/mar.jpg" alt="" border="0" /></a><br />A Marselhesa é, sem qualquer sombra de dúvida, uma das canções mais belas e emocionantes que a humanidade já produziu. Verdadeiramente arrepiante.<br /><br />Tenho várias versões aqui, mas a versão de Edith Piaff... sem comentários... (se ainda não ouviu, clique <a style="font-weight: bold;" href="http://www.4shared.com/file/59415488/dca6f8b0/Edith_Piaff_-_La_Marseillaise.html?s=1" target="_blank">aqui</a> para baixar - letra <a style="font-weight: bold;" href="http://www.dhnet.org.br/memoria/letrasrev/franca/14_amarselhesa.html" target="_blank">aqui</a>)<br /><br /><br /><br />Poucos sabem a sua história, entretanto.<br /><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">A Marselhesa</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">O hino mais famoso do mundo nasceu de um famoso momento da história universal. Mas também nasceu da mão que o escreveu e da boca que pela primeira vez o cantarolou: a mão e a boca de seu nada famoso autor, o capitão Rouget de Lisle, que o compôs numa noite.</span><br /><span style="font-style: italic;">A letra foi ditada pelas vozes da rua, e a música brotou como se o autor a tivesse dentro dele, desde sempre, esperando para sair.</span><br /><span style="font-style: italic;">Corria o ano de 1792, horas turbulentas: as tropas prussianas avançavam contra a revolução francesa. Discursos inflamados e declarações alvoraçavam as ruas de Estrasburgo.</span><br /><span style="font-style: italic;">- Às armas, cidadãos!</span><br /><span style="font-style: italic;">Em defesa da revolução acossada, o recém-recrutado exército do Reno partiu rumo à frente de batalha. O hino de Rouget deu brio às tropas. Soou, emocionou; e alguns meses depois, reapareceu, sabe-se lá como, na outra ponta da França. Os voluntários de Marselha marcharam para o combate cantando essa canção poderosa, que passou a se chamar "A Marselhesa", e a França inteira fez coro. E o povo invadiu, cantando, o palácio das Tulherias.</span><br /><span style="font-style: italic;">O autor foi preso. O capitão Rouget era suspeito de traição à pátria, porque tinha cometido a insensatez de divergir da dona Guilhotina, a mais afiada ideóloga da revolução.</span><br /><span style="font-style: italic;">No fim, saiu do cárcere. Sem uniforme, sem salário.</span><br /><span style="font-style: italic;">Durante anos arrastou sua vida, comido pelas pulgas, perseguido pela polícia. Quando dizia que era o pai do hino da revolução, todo mundo ria na sua cara.</span><br /><br />Eduardo Galeano, "Espelhos - uma história quase universal".<br /><br />Dedicado ao meu primo-irmão Ricardo Ferraz, que morou três anos em Paris, onde fez o doutorado e onde teve o desprazer de assistir, rodeado de franceses, à segunda humilhação que Zinedine Zidane impôs sobre a seleção canarinho.<br /><br />*****Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-40411321019598387242009-03-02T22:24:00.004-03:002009-03-10T09:16:34.143-03:00Marajó, Amazonas...Estive durante cinco dias em Marajó, Pará, a trabalho. Mais precisamente em São Sebastião da Boa Vista, sul da ilha. Nada de búfalos. Muito açaí, muita água (dos rios e das chuvas) e um ambiente de muita alegria e magia. A viagem coincidiu com a lua cheia de fevereiro. Inesquecível.<br /><br />Mais detalhes, num outro blog que estou ensaiando, o <a style="font-weight: bold;" href="http://brasilmaisprofundo.wordpress.com/" target="_blank">Brasil mais profundo</a>.<br /><br />Alguns (dos mais de seis mil - meus, do Bira e do Leonardo Melgarejo) registros de lá podem ser vistos <a style="font-weight: bold;" href="http://www.orkut.com.br/ExternalAlbum.aspx?uid=7454604782859372512&aid=1234204400&t=13407549132093165085&vid=11945627457905289594&ik=ACGyDXto1g632kJLTbcpiSLCVqaOJpHn7A" target="_blank">aqui</a>. Nem somadas, as imagens conseguirão expressar o que vivemos aqueles dias.<br /><br />Mas deixo aqui dois textos do livro novo do Galeano, "Espelhos - uma história quase universal", que li na chegada a São Sebastião, no bar da dona Silvana, o Porto Seguro. Bastante adequados à ocasião, ressalto.<br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">Amazonas</span><span style="font-style: italic;"><br /><br /> As amazonas, temíveis mulheres, tinham lutado contra Hércules quando ele ainda era Heracles, e contra Aquiles na Guerra de Tróia. Odiavam os homens e cortavam o seio direito para que suas flechadas fossem mais certeiras.</span><span style="font-style: italic;"><br /> O grande rio que atravessa o corpo das Américas de lado a lado se chama Amazonas por obra e graça do conquistador espanhol Francisco de Orellana.</span><span style="font-style: italic;"><br /> Ele foi o primeiro europeu que o navegou, lá de dentro da terra até mar afora. Voltou para a Espanha com um olho a menos, e contou que seus bergantins tinham sido crivados a flechadas por mulheres guerreiras, que lutavam nuas, rugiam como feras e quando sentiam fome de amores seqüestravam homens, os beijavam na noite e os estrangulavam ao amanhecer.</span><span style="font-style: italic;"><br /> E para dar prestígio grego ao seu relato, Orellana disse que elas eram aquelas amazonas adoradoras da deusa Diana, e com seu nome batizou o rio onde tinham seu reino.</span><span style="font-style: italic;"><br /> Os séculos se passaram. Das amazonas, nunca mais ninguém soube. Mas o rio continua com o seu nome, e embora a cada dia o envenenem os pesticidas, os adubos químicos, o mercúrio das minas e o petróleo dos barcos, suas águas continuam sendo as mais ricas do mundo em peixes, aves e histórias.</span><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-style: italic;font-size:78%;" >Foto: Ubirajara Machado/BP</span><br /></div><div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://brasilmaisprofundo.files.wordpress.com/2009/02/amazonas.jpg?w=300&h=200"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 300px; height: 200px;" src="http://brasilmaisprofundo.files.wordpress.com/2009/02/amazonas.jpg?w=300&h=200" alt="" border="0" /></a><span style="font-style: italic;font-size:85%;" >Quantos sabem a origem do nome do rio Amazonas?</span><br /></div><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">Servos e senhores</span><span style="font-style: italic;"><br /><br /> O cacau não precisa do sol. Porque o traz por dentro.</span><span style="font-style: italic;"><br /> Do sol de dentro nascem o prazer e a euforia que o chocolate dá.</span><span style="font-style: italic;"><br /> Os deuses tinham o monopólio do espesso elixir, lá nas alturas, e nós, os humanos, estávamos condenados a ignorá-lo.</span><span style="font-style: italic;"><br /> Quetzalcóatl roubou-o para os toltecas. Enquanto os outros deuses dormiam, ele pegou umas sementes de cacau e as escondeu em sua barba e por um longo fio de aranha desceu até a terra e as deu de presente à cidade de Tula.</span><span style="font-style: italic;"><br /> A oferenda de Quetzalcóatl foi usurpada pelos príncipes, pelos sacerdotes e pelos chefes guerreiros.</span><span style="font-style: italic;"><br /> Apenas os seus paladares foram dignos de recebê-la.</span><span style="font-style: italic;"><br /> Os deuses do céu tinham proibido o chocolate aos mortais, e os donos da terra o proibiram para as pessoas comuns e correntes.</span><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-style: italic;font-size:78%;" >Foto: Leonardo Melgarejo</span><br /></div><div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://brasilmaisprofundo.files.wordpress.com/2009/02/cacau.jpg?w=300&h=200"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 300px; height: 200px;" src="http://brasilmaisprofundo.files.wordpress.com/2009/02/cacau.jpg?w=300&h=200" alt="" border="0" /></a><span style="font-style: italic;font-size:85%;" >Com o cacau que a dona Silvana trouxe do seu quintal.</span><br /></div><br />Eduardo Galeano - "Espelhos - uma história quase universal".<br /><br />Pra quem é fã da língua de Castella, vale ler <a style="font-weight: bold;" href="http://www.lajornadajalisco.com.mx/2008/06/01/index.php?section=cultura&article=012n1cul" target="_blank">essa</a> resenha do livro, publicada pelo mexicano La Jornada.<br /><br />*****Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-36483433036563014642008-06-25T21:07:00.007-03:002008-06-26T00:49:30.112-03:00A rica e bela história do Haiti<span style="font-family:trebuchet ms;">Primeiro país da América Latina a se declarar independente e a decretar a abolição da escravatura, o Haiti - palavra que significa "país montanhoso" - tem uma das mais belas histórias do Novo Mundo.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A pobreza econômica atual contrasta com o passado de colônia francesa mais rica da América. No século XVIII, chegou a ser, por muito tempo, o maior produtor mundial de açúcar, numa era em que este era chamado de "ouro branco" e era motivo de guerras entre países.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Palco da maior rebelião negra até hoje realizada, o pequeno país se fez grande ao pegar o embalo da Revolução Francesa e se tornar livre. Liderados por Toussaint l'Ouverture, os escravos da colônia se declararam livres em 1794. Poucos anos depois, as tropas de Napoleão invadiram a ilha Hispaniola e promoveram um banho de sangue para restaurar o regime de servidão.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Sinônimo de miséria, o país hoje é ocupado por soldados da ONU, liderados pelo Exército brasileiro, numa operação polêmica e, como toda ocupação militar, marcada por arbitrariedades pouco visíveis na mídia tupiniquim.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Vale muito a pena ler o </span><a style="font-weight: bold; font-family: trebuchet ms;" href="http://aloisiomilani.wordpress.com/" target="_blank">blog</a><span style="font-family:trebuchet ms;"> e o </span><a style="font-weight: bold; font-family: trebuchet ms;" href="http://www.youtube.com/watch?v=T4xEjgWAyiA" target="_blank">vídeo</a><span style="font-family:trebuchet ms;">* do amigo Aloisio Milani, de quem esperamos um livro reunindo as experiências acumuladas nas várias viagens àquele país. Aliás, o Milani é um dos repórteres cujo trabalho acende uma ponta de esperança no jornalismo, nesses tempos em que, para os escribas das grandes redações, pouco ou nenhum valor têm os ensinamentos - na prática profissional - de mestres como outro </span><a style="font-weight: bold; font-family: trebuchet ms;" href="http://www.aloysiobiondi.com.br/" target="_blank">Aloysio, o Biondi</a><span style="font-family:trebuchet ms;">.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E deixo dois de tantos registro do Galeano sobre esse país de tão rica e brava gente.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-size:85%;" ><span style="font-family:arial;">*O documentário é de autoria de Aloisio Milani (direção), Marcello Casal Jr. (fotografia) e Oswaldo Alves (cinegrafia), e mostra o cotidiano da mais pobre favela de Porto Príncipe, Cité Soleil.</span></span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >1794</span><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >Paris</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >"O REMÉDIO DO HOMEM É O HOMEM", dizem os negros sábios, e bem o sabem os deuses. Os escravos do Haiti já não são escravos.<br /><br /></span><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Durante cinco anos, a Revolução Francesa tinha bancado a surda. Em vão protestavam Marat e Robespierre. A escravidão continuava nas colônias: não nasciam livres nem iguais, apesar da Declaração dos Direitos do Homem, os homens que eram propriedade de outros homens nas distantes plantações das Antilhas. Afinal de contas, a venda de negros da Guiné era o negócio principal dos revolucionários mercadores de Nantes, Bordéus e Marselha; e do açúcar antilhano viviam as refinarias francesas.<br /><br /></span><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Acossado pela insurreição negra, encabeçada por Toussaint Louverture, o governo de Paris acaba decretando o fim da escravidão.</span><br /><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >1795</span><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Montanhas do Haiti</span><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >TOUSSAINT</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Entrou em cena há um par de anos. Em Paris, é chamado de O Espártaco Negro.</span><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Toussaint Louverture tem corpo de rã e os lábios ocupam quase toda a sua cara. Era cocheiro de uma plantação. Um negro velho lhe ensinou a ler e a escrever, a curar cavalos e a falar com os homens; mas sozinho aprendeu a olhar não só com os olhos, e sabe ver o vôo em cada pássaro que dorme.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">(ambos extraídos de <span style="font-style: italic;">Memória do Fogo II - As caras e as máscaras</span>)<br /><br /></span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-14915903657582342042008-05-15T11:35:00.005-03:002008-05-15T12:06:05.158-03:00Contradições<span style="font-family:trebuchet ms;">Não canso de repetir que o maior desafio da vida consiste em navegar o oceano de contradições sem deixarmos que o barco vire. Não é fácil. Mas quem disse que seria?<br /><br />Fernando Pessoa registra isso a seu (poético) modo:<br /><br /></span><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 102);font-family:Verdana,Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:85%;" >Tenho tanto sentimento<br /></span><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 102);font-family:Verdana,Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:85%;" >Que é freqüente persuadir-me<br />De que sou sentimental,<br />Mas reconheço ao medir-me,<br />Que tudo isto é pensamento,<br />Que não senti afinal.<br />Temos, todos que vivemos,<br />Uma vida que é vivida<br />E outra vida que é pensada,<br />E a única vida que temos<br />É essa que é dividida<br />Entre a verdadeira e a errada.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />Quantas vezes fazemos algo que contraria nossos próprios princípios e idéias? E as contradições não estão apenas nas pessoas. Estão nas instituições, nas entidades, nas organizações... porque estas são feitas por pessoas. Há que se ter cuidado, porém, em distinguir entre contradição e hipocrisia. O neoliberalismo (e seus defensores), por exemplo, <span style="font-style: italic;">diz o que não faz para fazer o que não diz</span> - Galeano.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Li um e-mail** hoje que me fez refletir sobre esse tema e lembrar que até as flores têm suas contradições. O grande Jorge Du Peixe, por exemplo, canta: "E os espinhos são pra quem pensa em enganar a flor / A beleza rédia prosa da dor".</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E, afinal de contas, o Drummond já disse há muito tempo:</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0); font-style: italic;font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" >Se procurar bem você acaba encontrando.</span><span style="font-size:85%;"><br /></span><span style="color: rgb(0, 0, 0); font-style: italic;font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" >Não a explicação (duvidosa) da vida,</span><span style="font-size:85%;"><br /></span><span style="color: rgb(0, 0, 0); font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" ><span style="font-size:85%;">Mas a poesia (inexplicável) da vida.</span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em Galeano, muitas páginas falam sobre o tema. Peguei um pequeno trecho do Livro dos Abraços*, na língua original, que é mais melodiosa.</span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" ><br /></span> <p class="MsoNormal" style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-style: italic; font-weight: bold; color: rgb(0, 0, 102);">Celebración de las contradicciones/2</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 102);">Desatar las voces, desensońar los sueńos: escribo queriendo revelar lo real maravilloso, y descubro lo real maravilloso em el exacto centro de lo real horroroso de América.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 102);">En estas tierras, la cabeza del dios Eleggúa lleva la muerte en la nuca y la vida en la cara. Cada promesa es una amenaza; cada pérdida, um encuentro. De los miedos nacen los corajes; y de las dudas, las certezas. Los sueńos anuncian otra realidad posible y los delirios, otra razón.</span><o:p style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 102);"><br /><br /></o:p><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 102);">Al fin y al cabo, somos lo que hacemos para cambiar lo que somos. La identidad no es una pieza de museo, quietecita en la vitrina, sino la siempre asombrosa síntesis de las contradicciones nuestras de cada día.</span><o:p style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 102);"><br /><br /></o:p><span style="font-style: italic; color: rgb(0, 0, 102);">En esa fe, fugitiva, creo. Me resulta la única fe digna de confianza, por lo mucho que se parece al bicho humano, jodido pero sagrado, y a la loca aventura de vivir en el mundo.</span><br /><br />Eduardo Galeano, El libro de los abrazos<br /><br /><br />*Esse é daqueles livros que marcam a vida de qualquer pessoa. Impossível passar incólume por ele. É desses que ficam eternamente do lado da cama. Quem tiver preguiça de procurar ou avareza de comprar, mas ainda assim muito se interessar, tenho o livro na íntegra, em espanhol, em arquivo digital.<br /><br /><br />**<span style="font-family:trebuchet ms;">O e-mail que me levou a esta reflexão veio como resposta (a uma provocação minha) de uma pessoa que não conheço... contradição? Nem tanto...<br /><br /></span></p>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-18747078191989337612008-04-27T10:29:00.004-03:002008-04-28T23:24:57.872-03:00Aprendizado, renovação, intensidade...<span style="font-family:trebuchet ms;">Começo a escrever estas linhas às 2h24 da madrugada de sábado, 19 de abril de 2008. Dum quarto de hotel em Cariacica(ES), onde entrei há menos de uma hora, depois do nosso pequeno grupo ter sido barrado, por falta de vagas, no hotel previsto. Por acaso, identifico que o hotel, bastante simples, oferece uma rede sem fio. Cá estou.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O dia começou com cinco horas entre aeroportos (Brasília-Rio-Vitória). Leve pernada em busca de um almoço que acabou sendo delicioso - confesso que cometi sem pudores o pecado da gula (moqueca, carne assada, lingüiça, feijão preto, arroz com milho, batata frita, tomate, cebola, rúcula, alface e uma farofinha, óbvio).</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Entre ida e vinda, quatro horas de estrada (no velho ônibus coletivo urbano, nada </span><span style="font-family:trebuchet ms;">da poltronas, muito menos reclináveis), em comboio com mais de duzentos(as) militantes de todo o país (se conversei com uma índia do Acre, o resto é moleza), entre Vitória e Aracruz, município cujo nome é mais conhecido por motivos bastante específicos.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"> No caminho, além do belíssimo litoral capixaba, um detalhe me grita a atenção. Lembro de uma frase do Eduardo Galeano (sim, dele mesmo!): "A história é um paradoxo ambulante. A contradição move-lhe as pernas". Os ônibus que formam o comboio e transportam os(as) militantes de direitos humanos têm a inscrição: "Este ônibus está a serviço da Vale", ao lado da nova marca da empresa.<br /><br /></span><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz7bbzmVTQ3vdNrUFdiCVPFT3Sl0njJDVX_vRVPx2gky2QjIMCPOpA5Z1j9gYNS5LTZ-FFgYmSaekC5laj6Uy6uyXkHpanx08WbqT2YBQCIpf5rrv_MAEYbXp04RVTXur-wPJFrA/s1600-h/vale_mont.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz7bbzmVTQ3vdNrUFdiCVPFT3Sl0njJDVX_vRVPx2gky2QjIMCPOpA5Z1j9gYNS5LTZ-FFgYmSaekC5laj6Uy6uyXkHpanx08WbqT2YBQCIpf5rrv_MAEYbXp04RVTXur-wPJFrA/s320/vale_mont.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5194481194842793778" border="0" /></a><span style="font-family:trebuchet ms;"> Para quem não lembra, esta é a mesma Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que pertenceu por décadas ao patrimônio do povo brasileiro e foi doada por 3 bilhões de reais (com dinheiro do BNDES, ainda por cima), quando valia mais de cem bilhões, a um consórcio de empresas cuja líder (Bradesco) participou do processo de avaliação que definiu o valor do leilão, realizado em 1997. Hoje, a Vale não é apenas uma das maiores mineradoras do mundo. É uma das maiores violadoras de direitos humanos do Brasil, usando o aparato do Estado para reprimir populações que são prejudicadas por sua gestão sustentavelmente destrutiva.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Abertura do XV Encontro/Assembléia Nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos. O local da cerimônia foi acertado desde setembro.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Na semana passada, um motivo especial se incorporou aos objetivos do evento do MNDH de homenagear a luta que indígenas e quilomboloas da região travam há mais de duas décadas contra uma das maiores papeleiras do mundo, a Aracruz Celulose: as terras indígenas, adquiridas pela empresa através de fraude em conluio com o Ministério da (In)Justiça do Sarney, finalmente começaram a ser demarcadas. O que já seria uma merecida e bela homenagem se transformou em festa de celebração desta vitória histórica. Os guarani e os tupiniquim vão passar o fim de semana comemorando com todo tipo de atividade: esporte, educação, arte, política, ritos sagrados...</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Impossível não se sentir mais vivo, contagiado pela força das palavras e gesto de Iara Tupã (Deusdéia, o nome cristão), uma das líderes locais. O mesmo se aplica ao cacique Peru, que assume a deficiência na língua do branco ao mesmo tempo em que expõe suas convicções: "Eu não sei falar português direito... mas sei muito bem dos nosso pobrema e do nosso sofrimento"...</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Em vários momentos, a garganta se torce em nó. Noutros, sorrisos gerados pelo humor sagaz de pessoas que são vítimas de preconceitos e discriminações dos mais diversos tipos.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Enquanto falam, atrás deles, no espaço armado para o ato, podem ser vistas bandeiras do MST, do MTST, do próprio MNDH, do arco-íris do movimento GLBTT, duas com a foto imortal de Che Guevara, uma sobre a bandeira de Cuba, entre outros símbolos que representam a diversidade das lutas sociais no Brasil e no mundo.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A noite é de muita festa. Muita alegria. Muita comida. Muita arte. Muita vida.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Adolescentes quilombolas se divertem observando a dança das guerreiras índias. Pouco depois, são os(as) jovens e crianças dos povos indígenas - que habitavam esta terra muito antes de a nomearem de Brasil, nunca é demais lembrar - que dançam ao som percussivo e contagiante do congo, maior representante da música negra no Espírito Santo. Um indiozinho, com não mais do que 12 anos, enverga uma camisa antiga do Fluminense. Uma senhora, septuagenária, não pára de dançar e sorrir, enquanto empunha um estandarte com São Benedito, padroeiro do povo negro aqui e em tantas outras bandas.<br /><br /></span><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFq4g-BI-gowjrsMfisMIpD9viponXcTYZiX3tiL-WUkYNFVGu7dRFfy_aVbh4goHJ4q27ecY9IrnTJcfI44Z8XtGW2NZsbnfxzAhXDG90tZCFI6e4OIcKk7dApVACiCKH0VE0-w/s1600-h/saobenedito.JPG"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 278px; height: 207px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFq4g-BI-gowjrsMfisMIpD9viponXcTYZiX3tiL-WUkYNFVGu7dRFfy_aVbh4goHJ4q27ecY9IrnTJcfI44Z8XtGW2NZsbnfxzAhXDG90tZCFI6e4OIcKk7dApVACiCKH0VE0-w/s320/saobenedito.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5194484527737415490" border="0" /></a><span style="font-family:trebuchet ms;">Vim representar o Intervozes num debate sobre direito à comunicação e democracia. Ainda nem falei (apenas na tarde deste sábado), mas já me sinto imensamente realizado com o que vi, ouvi e senti nesta sexta-feira. O que vier a mais, excelente.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Meu corpo, que na véspera dormiu apenas três horas, clama por um recesso que, embora breve, será muito revigorante, pois o espírito já foi renovado e, por isso, não quer me entregar a Morfeu ou a Hipnos.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Um dos dias mais intensos da minha vida, que jamais poderá ser descrito em palavras.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Rogério Tomaz Jr.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social<br /><br />PS: Fiz uns vídeos e assim que colocar no Youtube postarei os links aqui.<br /><br /></span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-11902641604150614632008-04-02T00:26:00.005-03:002008-04-02T01:30:07.924-03:00Futebol ao sol e sombra<span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" >Devia esse há tempos. Já falei desse livro - Futebol ao sol e sombra - que considero o melhor sobre o tema. Segue o texto de abertura, "Confissão do autor", que vale para a maioria absoluta dos cronistas do esporte, lembrando o que acontece entre artistas e muitos críticos de arte.</span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" ><br /><br /></span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" >E vale também para expressar algo do qual também já falei aqui: minha paixão pelo jogo é maior do que a paixão pelas camisas. Seguindo este princípio, hoje em dia torço tanto pela Argentina quanto pela Amarelinha. E até o único time que já odiei na vida - o Fortaleza, que, nos anos recentes, tem levado muita vantagem sobre o meu Ceará Sporting Club - é apenas uma referência de grande rivalidade, nada além disso.</span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" ><br /><br /></span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" >Sem mais. Dedicado à Ana Paula, menina Trovão, que jura acompanhar futebol - e torcer pelo São Paulo - desde pequenininha. E que me faz lembrar o grande Vinícius: "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".</span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" ><br /></span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" ><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">"Confissão do autor"</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Como todos os meninos uruguaios, eu também quis ser jogador de futebol. Jogava muito bem, era uma maravilha, mas só de noite, enquanto dormia: de dia era o pior perna-de-pau que já passou pelos campos do meu país.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Como torcedor, também deixava muito a desejar. Juan Alberto Schiaffino e Julio César Abbadie jogavam no Peñarol, o time inimigo. Como bom torcedor do Nacional, eu fazia o possível para odiá-los. Mas Pepe Schiaffino, com suas jogadas magistrais, armava o jogo como se estivesse lá na torre mais alta do estádio, vendo o campo inteiro, e Pardo Abbadie deslizava a bola sobre a linha branca da lateral e corria com botas de sete léguas, gingando, sem tocar na bola nem nos rivais: eu não tinha saída a não ser admirá-los. Chegava até a sentir vontade de aplaudi-los.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Os anos se passaram, e com o tempo acabei assumindo minha identidade: não passo de um mendigo do bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico:</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">- Uma linda jogada, pelo amor de Deus!</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre - sem me importar com o clube ou o país que o oferece.<br /><br /></span><span>Eduardo Galeano - Futebol ao sol e sombra</span><span style="font-style: italic;"><br /></span></span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" ><br />*****<br /><br /></span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" >Em tempo, não vejo nenhum time nesse início de temporada no Brasil jogar um futebol tão vistoso quanto o Fluminense. Chega perto o Botafogo.</span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" ><br /><br /></span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" >Lá fora, confesso que me deleito com o trio de jovens craques do Manchester United, Wayne Rooney, Carlitos Tevez e o tenor Cristiano Ronaldo. O Barcelona ainda tem alguns lampejos, mas longe do esquadrão de dois anos atrás.</span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com151tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-74450478575838009532008-02-17T22:38:00.004-03:002008-02-17T23:41:04.417-03:00Tempo compartido, vidas compartidas<span style="font-family:trebuchet ms;">Este é o segundo texto do maravilhoso "Dias e noites de amor e de guerra", livreto emocionante, revoltante e revigorante para qualquer pessoa em cujas veias correm sangue realmente vermelho.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A matéria-prima são crônicas de fatos colecionados, principalmente, nas andanças forçadas de Eduardo Galeano em meados dos anos 70. Naquele período, por muito pouco Galeano não entrou para as estatísticas dos "efeitos colaterais" das ditaduras uruguaia e argentina, iniciadas respectivamente em 1973 e 1976. Foi morar na Espanha, de onde regressou apenas em 1984.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Dedico a todas as pessoas que não têm medo de, dividindo alegrias e tristezas, se dividir entre (e com) quem lhes importa. Em especial, às minhas amigas e companheiras do "albergue" (segundo o síndico) do bloco K da 216 Norte, na (Bras)Ilha do coração do Brasil: a cearense Mayrá, a gaúcha Gija e a catarinense Joana.<br /><br />*****<br /></span><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >Fecho os olhos e estou no meio do mar</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Perdi várias coisas em Buenos Aires. Pela pressa ou por azar, ninguém sabe onde foram parar. Saí com um pouco de roupa e um punhado de papéis.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Não me queixo. Com tantas pessoas perdidas, chorar pelas coisas seria desrespeitar a dor.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Vida cigana. As coisas me acompanham e vão embora. São minhas de noite, perco-as de dia. Não estou preso às coisas; elas não decidem nada.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Quando me separei de Graziela deixei a casa de Montevidéu intacta. Ficaras os caracóis de Cuba e as espadas da China, os tapetes da Guatemala, os discos e os livros e tudo. Levar alguma coisa teria sido um roubo. Tudo isso era dela, tempo compartido, tempo que agradeço; e me larguei no caminho, rumo ao não sabido, limpo e sem carga.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Febre de meus adentros: as cidades e as gentes, soltas da memória, navegam para mim: terra onde nasci, filhos que fiz, homens e mulheres que me aumentaram a alma.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">*****</span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-13752388408368106922008-01-29T00:30:00.000-02:002008-01-29T00:44:26.773-02:00Verdades e mentiras sobre o mundoSimplesmente assista.<br /><br />Num encontro na Itália, em 2004, Eduardo Galeano fala sobre alguns personagens do teatro global do bem e do mal.<br /><br /><object height="355" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/0BtitTWJIAA&rel=1"><param name="wmode" value="transparent"><embed src="http://www.youtube.com/v/0BtitTWJIAA&rel=1" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" height="355" width="425"></embed></object>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-29918812052821825092008-01-19T13:15:00.000-02:002008-01-19T15:56:03.854-02:00A dignidade da arte<p style="font-family: trebuchet ms;">Um dos incontáveis textos do Galeano que me emocionam sempre que releio ou relembro, esse abaixo incita várias reflexões...<br /><br /><span style="font-style: italic;font-size:100%;" ><span style="color: rgb(128, 0, 0);">A dignidade da arte<br /> </span></span> <span style="font-size:100%;"><br /><span style="font-style: italic;"> Eu escrevo para os que não podem me ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, não sabem ler ou não tem com o quê.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Quando chega o desânimo, me faz bem recordar uma lição de dignidade da arte que recebi há anos, num teatro de Assis, na Itália. Helena e eu tínhamos ido ver um espetáculo de pantomima, e não havia ninguém. Ela e eu éramos os únicos espectadores. Quando a luz se apagou, juntaram-se a nós o lanterninha e a mulher da bilheteria. E, no entanto, os atores, mais numerosos que o público, trabalharam naquela noite como se estivessem vivendo a glória de uma estréia com lotação esgotada. Fizeram sua tarefa entregando-se inteiros, com tudo, com alma e vida; e foi uma maravilha.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Nossos aplausos ressoaram na solidão da sala. Nós aplaudimos até esfolar as mãos.</span><br /><br /><span style="color: rgb(128, 0, 0);">Eduardo Galeano</span> <span style="color: rgb(128, 0, 0);">- </span></span><a href="http://www.lpm.com.br/c223_004.htm"><span style="font-size:100%;"><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></span></a><a style="font-style: italic;" href="http://www.lpm.com.br/c223_004.htm" target="_blank">O livro dos abraços</a><span style="font-size:100%;"><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Para a amiga e vizinha Luanne, para os momentos de crise no casamento (com a comunicação... rs).</span></span></p><span style="font-size:85%;"><span style="color: rgb(128, 0, 0);"> </span></span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-58315383829839364072008-01-10T01:06:00.000-02:002008-01-10T01:37:55.160-02:00Micaela<span style="font-family:trebuchet ms;">Devo esse texto à Ramênia, amiga, companheira do Intervozes e mãe da Micaela, que nasceu no início de 2007. Demorou muito, mas aqui está. Um pequeno registro de uma brava lutadora americana, que não se curvou diante da exploração e da opressão colonial espanhola no Peru.</span><br /><br /><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" ><span style="font-style: italic;">"Líder das tropas de Amaru II, casada com ele desde os 15 anos. Era mais radical que Amaru, aconselhando- o a tomar a cidade de Cusco, em vez de esperar a conciliação, mesmo que custasse a vida dos indígenas que apoiavam os espanhóis. Amaru II, porém, manteve as tropas recuadas, o que permitiu a reorganização do exército oficial, que exterminou a resistência. Foi presa e assassinada cruelmente, aos 36 anos". </span>[<a href="http://www.brasildefato.com.br/v01/impresso/anteriores/jornal.2007-05-03.4930807611/editoria.2007-05-16.1250539047/materia.2007-05-16.7540787156" target="_blank">Reportagem</a> da Agência Brasil de Fato]</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Outro texto bem interessante sobre a guerreira pode ser lido </span><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://inconfidenciamineira.com/?p=174" target="_blank">aqui</a><span style="font-family:trebuchet ms;">.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mais uma de tantas grandiosas figuras históricas da nossa América que não é citada na História ensinada a nossas crianças. Mas isso ainda será mudado.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >Micaela</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Na guerra dos índios, que fez ranger as montanhas dos Andes com dores de parto, Micaela Bastidas não teve descanso nem consolo.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Essa mulher de pescoço de pássaro percorria as terras </span><span style="font-family:trebuchet ms;">arranjando mais gente</span><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" > e enviava à frente novas hostes e escassos fuzis, a luneta que alguém tinha perdido, folhas de coca e milho verde. </span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Galopavam os cavalos, incessantemente, levando e trazendo através das serras suas ordens, salvo-condutos, relatórios e cartas. Numerosas mensagens levou a Túpac Amaru, apressando-o a lançar suas tropas sobre Cusco de uma vez por todas, antes que os espanhóis fortalecessem as defesas e se dispersassem, desanimados, os rebeldes. </span><span style="font-family:trebuchet ms;">Chepe</span><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >, escrevia, </span><span style="font-family:trebuchet ms;">Chepe, meu muito querido: Bastantes advertências te dei...</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Puxada pelo rabo de um cavalo, entra Micaela na Praça Maior de Cusco, que os índios chamam Praça dos Prantos. Ela vem dentro de um saco de couro, desses que carregam mate do Paraguai. Os cavalos arrastam também, rumo ao cadafalso, Túpac Amaru e Hipólito, o filho dos dois. Outro filho, Fernando, olha.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eduardo Galeano</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Retirado da coletânea "Mulheres", mas originalmente publicado no segundo volume da trilogia Memória do Fogo (As caras e as máscaras).<br /><br /></span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-64453824459546060852007-11-20T23:35:00.001-02:002009-10-27T19:13:08.939-02:00Mulheres e o futebol<span style="font-family:trebuchet ms;">O futebol em si é apenas um jogo. A riqueza dele, o que o torna apaixonante e mobilizador de milhões, reside na metáfora - ou melhor, nas metáforas - para a vida.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Por isso minha paixão futebolística supera e muito minha paixão clubística. Transformar o amor ao jogo em amor exclusivo ao clube é ato de estupidez e cegueira. Pequenez mesmo.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">"Futebol ao sol e sombra", do Galeano, é, de longe, o melhor livro sobre futebol que li até hoje, afora os de Nélson Rodrigues, que é </span><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >hour concour</span><span style="font-family:trebuchet ms;">. E não foram poucos. Outros bem interessantes foram "Como o futebol explica o mundo", do jornalista estadunidense (!) Franklin Foer, e "Futebol e guerra", do inglês Andy Dougan. O primeiro traça alguns paralelos entre a globalização e o mundo da bola. O segundo conta a épica história de resistência do Dínamo de Kiev na Ucrânia ocupada pelos nazistas na Segunda Guerra - história, aliás, contada por Galeano no seu opúsculo sobre o "esporte das multidões". Fico devendo aqui.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Há até um recente </span><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >site</span><span style="font-family:trebuchet ms;"> </span><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://livrosdefutebol.com/" target="_blank">"Livros de futebol"</a><span style="font-family:trebuchet ms;">. Os dois acima não estão no catálogo, ainda.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Segue trecho do artigo "Coisas raras", publicado pelo Galeano na excelente </span><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://www.revistaforum.com.br/vs2/Artigos_Ler.asp?Artigo=%7BB8DA81B6-7467-4B6F-82C1-B48B70D0D0E6%7D" target="_blank">Fórum</a><span style="font-family:trebuchet ms;">.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><span style="font-family:trebuchet ms;">*****</span><br /><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:10;" ></span><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Não é um milagre químico. Estão dopados pelo entusiasmo e pela alegria. Melhor dito: dopadas. Os onze jogadores de cada equipe são muito mais que onze. Melhor dito: as onze jogadoras. Neles, joga uma multidão. Melhor dito: nelas. Estes são rituais de afirmação dos humilhados. Melhor dito: das humilhadas.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Pouco a pouco, o futebol das mulheres vem ganhando espaço nos meios dedicados à difusão desse esporte de machos para machos, que não sabe o que fazer com esta imprevista invasão de tantas senhoras e senhoritas.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >A nível profissional, o desenvolvimento do futebol feminino encontra, hoje em dia, certa ressonância. Mas não encontra eco nenhum, ou desperta ecos inimigos, no jogo que se pratica pelo puro prazer de jogar.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Na Nigéria, a seleção feminina é um orgulho nacional. Disputa os primeiros lugares no mundo. Mas no norte muçulmano os homens se opõem, porque o futebol convida as donzelas à depravação. Mas terminam por aceitá-lo, porque o futebol é um pecado que pode outorgar fama e salvar a família da pobreza. Se não fosse pelo ouro que promete o futebol profissional, os sacerdotes proibiriam essas roupas indecentes impostas por um satânico esporte que deixa as mulheres estéreis, por lesão do jogo ou castigo de Alá.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Em Zanzibar e no Sudão, os irmãos varões, guardiões da honra da família, castigam com surras esta louca mania de suas irmãs que se crêem homens capazes de chutar uma bola, e que cometem o sacrilégio de descobrir o corpo. O futebol, coisa de machos, nega às mulheres campos de entretenimento e de jogo. Os homens se negam a jogar contra as mulheres. Por respeito à tradição religiosa, dizem. Pode ser. Além disso, ocorre que a cada vez que jogam, perdem.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Na Bolívia, do outro lado do mar, não há problema. As mulheres jogam futebol, nos povos do altiplano, sem desnudar suas numerosas polleras. Vestem por cima uma camiseta de cores e sem demora põem-se a fazer gols. Cada partida é uma festa. O futebol é um espaço de liberdade aberto às mulheres cheias de filhos, oprimidas pelo trabalho escravo na terra e nos teares, submetidas às freqüentes surras de seus maridos bêbados. Jogam descalças. Cada equipe triunfante recebe de prêmio uma ovelha. A equipe derrotada, também. Estas mulheres silenciosas riem às gargalhadas por toda a partida e depois seguem morrendo de rir por todo o banquete. Festejam juntas, vencedoras e vencidas. Nenhum homem se atreve a meter o nariz.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eduardo Galeano</span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-61242388891864769512007-09-09T23:05:00.000-03:002007-09-10T08:21:37.599-03:00As luta dos índios<span style="font-family:trebuchet ms;">Os últimos dias foram pródigos em ilustrar a dureza da luta dos povos indígenas. Dois casos brasileiros que são, certamente, representativos de situações bastante comuns enfrentadas pelos indígenas em todos os países da América.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">No último 28 de agosto, nos gabinetes do poder público, a </span><a style="font-weight: bold; font-family: trebuchet ms;" href="http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=2731&eid=274" target="_blank">vitória</a><span style="font-family:trebuchet ms;"> dos povos Tupinikim e Guarani do Espírito Santo contra a multinacional Aracruz. Esta empresa, que havia se apropriado ilegalmente de territórios indígenas e quilombolas, sofreu uma dura derrota jurídica e política com a assinatura da portaria que garante aos índios a posse da área reivindicada há décadas.<br /></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-style: italic;font-size:85%;" >Índios comemoram vitória contra Aracruz Celulose<br /></span><span style="font-size:85%;">Foto: Valter Campanato (Agência Brasil)</span></span><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.abrandh.org.br/imagens/noticias/aracruzindios.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 320px;" src="http://www.abrandh.org.br/imagens/noticias/aracruzindios.jpg" alt="" border="0" /></a><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br /><span style="font-style: italic;font-size:85%;" ></span><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /><br />Exatamente uma semana antes, uma amostra nítida da natureza - mais do que <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">face</span>, trata-se de <span style="font-weight: bold; font-style: italic;">natureza</span> - arbitrária e truculenta dos senhores de escravos do agronegócio brasileiro, cuja essência é a mesma há quinhentos anos.<br /><br />Em Juína(MT), ativistas do Greeenpeace, da OPAN e dois jornalistas franceses foram </span></span><a style="font-weight: bold; font-family: trebuchet ms;" href="http://www.greenpeace.org/brasil/amazonia/noticias/fazendeiros-e-pol-ticos-expuls" target="_blank">impedidos</a><span style="font-family:trebuchet ms;"> (!) de acompanhar um grupo de índios Enawenê Nawê numa missão cujo objetivo seria colher imagens para um documentário sobre o desmatamento do seu território pelos fazendeiros locais. Com isso, a Constituição Federal foi reduzida a pó, em nome do sagrado direito à propriedade e da santíssima liberdade econômica. Assista ao </span><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://br.youtube.com/watch?v=q9esNX7bzHY" target="_blank"><span style="font-weight: bold;">vídeo</span></a><span style="font-family:trebuchet ms;"> (12min) que mostra o tipo de democracia defendem os latifundiários.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Abaixo, pequeno texto escrito em 1691, atualíssimo ainda hoje.</span><br /><br /><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" >*****</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >1691</span><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Placentia</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >Adario, chefe dos índios hurões, fala ao Barão de Lahontan, colonizador francês de Terranova</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Não, já bastante miseráveis são os senhores; não imagino como poderiam ser piores. A que espécie de criaturas pertencem os europeus, que classe de homens são? Os europeus, que só fazem o bem por obrigação, e não tem outro motivo para evitar o mal que o medo ao castigo...</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Quem lhes deu os países que agora habitam? Com que direito os possuem? Estas terras pertenceram desde sempre aos algonquinos. De verdade, meu querido irmão, sinto pena de ti no fundo de minha alma. Siga meu conselho e faça-te hurão. Vejo claramente a diferença que há entre a minha condição e a tua. Eu sou meu amo, e o amo da minha condição. Eu sou o amo de meu próprio corpo, disponho de mim, faço o que me dá prazer, sou o primeiro e o último da minha nação, não tenho medo de ninguém e só dependo do Grande Espírito. Em compensação, teu corpo e tua alma estão condenados, dependem do grande capitão, o vice-rei dispõe de ti, não tens a liberdade de fazer o que te vier à cabeça; vives com medo dos ladrões, das falsas testemunhas, dos assassinos; e deves obediência a uma infinidade de pessoas que estão por cima de ti. É verdade ou não é verdade?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eduardo Galeano, Memória do Fogo I - Os nascimentos</span><br /><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" >Fonte: MacLuhan, T.C. (Compilador) <span style="font-style: italic;">Touch the Earth (A self-portrait of Indian existence)</span>. Nova York, Simon and Schuster, 1971.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">*****</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mais sobre esse tema neste espaço:</span><br /><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://bocasdotempo.blogspot.com/2007/07/dizem-os-ndios.html" target="_blank">http://bocasdotempo.blogspot.com/2007/07/dizem-os-ndios.html</a><br /><br /><div style="text-align: justify;"><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" >PS: Os hurões - apelido pejorativo ("brutamontes") dado pelos franceses ao povo Wyandot - habitavam a área que hoje corresponde à região dos estados de Ontário, no Canadá, e Ohio, Michigan e Wisconsin, nos Estados Unidos.</span><br /></div><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" ><br /></span><div style="text-align: justify;"><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" >PS2: O governo sueco, por conta das ações ilegais da Aracruz, se desfez de suas ações na empresa. Ver mais detalhes <a style="font-weight: bold;" href="http://www.consciencia.net/2006/0422-aracruz-suecos.html" target="_blank">aqui</a>. O Banco Mundial também teve que dar <a style="font-weight: bold;" href="http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=10279" target="_blank">satisfações</a> à sociedade por ter feito um empréstimo vultoso à empresa, que ainda tem no seu histórico a <a href="http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=13195" target="_blank"><span style="font-weight: bold;">condenação</span></a> judicial por uma campanha publicitária discriminatória contra os indígenas.</span><br /></div><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" ><br /></span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-24011558012908763072007-08-26T13:13:00.000-03:002007-11-06T12:55:18.958-02:00Cinco mulheres<span style="font-family:trebuchet ms;">Esta crônica foi lida pelo Marcelo Arruda no sarau do meu </span><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://www.fotolog.com/rogeriotomazjr/20041057" target="_blank">aniversário</a><span style="font-family:trebuchet ms;">. Ontem, ao final de um curso da Abrandh com pessoas do Brasil inteiro, maioria absoluta de mulheres militantes da segurança alimentar e nutricional, do movimento sanitarista, do movimento negro e outros, li o texto.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Uma pequena homenagem às cinco mulheres que trabalham cotidianamente comigo na Abrandh e com as quais aprendo bastante, sobretudo. E também uma homenagem às briosas militantes que participaram do curso.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E agora, enquanto escrevo, converso com a querida amiga alagoana-paulistana Maria "quase National Geographic" Catharina, a quem também dedico estas linhas do Galeano.</span><br /><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >Cinco mulheres</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;font-size:12;" >–</span><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" > O inimigo principal qual é? A ditadura militar? A burguesia boliviana? O Imperialismo? Não, companheiros. Eu quero dizer só isso: nosso inimigo principal é o medo. Temos medo por dentro.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Só isso disse Domitila na mina de estanho de Catavo e então veio para La Paz, a capital da Bolívia, com outras quatro mulheres e uma vintena de filhos. No Natal começaram a greve de fome. Ninguém acreditou nelas. Vários acharam que esta piada era boa:</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;font-size:12;" >–</span><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" > Quer dizer que cinco mulheres vão derrubar a ditadura?</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >O sacerdote Luis Espinal é o primeiro a se somar. Num minuto já são mil e quinhentos os que passam fome na Bolívia inteira, de propósito. As cinco mulheres, acostumadas à fome desde que nasceram, chamam a água de franco ou peru, de costeleta o sal, e o riso as alimenta.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Multiplicam-se enquanto isso os grevistas de fome, três mil, dez mil, até que são incontáveis os bolivianos que deixam de comer e deixam de trabalhar e vinte e três dias depois do começo da greve de fome o povo se rebela e invade as ruas e já não há como parar isso.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Em 1978, as cinco mulheres derrubam a ditadura militar.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eduardo Galeano, Memória do Fogo III - O século do vento<br /><br /><span style="font-size:85%;">PS: Para quem acredita que este é um texto de ficção, recomendo a leitura <a href="http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=2108" target="_blank">desta</a> notícia.<br /><br />PS2: Saudação especial à amiga e conterrânea Selma, que me falou do <a href="http://revistahipertexto.blogspot.com/2006/07/se-me-deixam-falar.html" target="_blank">Se me deixam falar</a>, livro de Moema Viezzer a partir de depoimentos de Domitila Chungara, mulher</span></span><span style="font-size:85%;"> <span style="font-family:trebuchet ms;">"pobre, descendente de indígenas, esposa de um minerador, tudo isso durante a ditadura militar no interior da Bolívia".<br /><br />PS3: Aceito o livro de presente (o Dia das Crianças está chegando...)<br /><br /><span style="font-weight: bold;">PS4:</span> <span style="font-weight: bold; color: rgb(255, 0, 0);">ACHEI O LIVRO NUM SEBO VIRTUAL (www.estantevirtual.com.br) POR R$ 4,00 (sim, quatro reais mesmo!!) e já li. FODÁSTICO!! Em breve escreverei a respeito.</span><br /><br /></span></span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-40796125572969379942007-08-20T01:08:00.000-03:002007-08-20T03:00:44.774-03:00A personificação da dignidade<div style="text-align: justify;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRel9bvm8HF8nrNrjD5Xp4YpMN9wTU-IIZA4yHDhA_OCKij0g3qI0navsvrC3zUlYyd6ZnVZi7fOe-WF8rtmzkJFcRifPRx3FK1Tn_IWnnmiTaot-zAa3l5OJzXZ5NpFd3XxPkXA/s1600-h/Clara_eu.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRel9bvm8HF8nrNrjD5Xp4YpMN9wTU-IIZA4yHDhA_OCKij0g3qI0navsvrC3zUlYyd6ZnVZi7fOe-WF8rtmzkJFcRifPRx3FK1Tn_IWnnmiTaot-zAa3l5OJzXZ5NpFd3XxPkXA/s320/Clara_eu.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5100644745207128274" border="0" /></a><span style="font-family:trebuchet ms;">- Avisa ao Flavio que eu completei 82 anos!, diz, com entusiasmo.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O sorriso largo e fácil da pequenina senhora, de cabeleira branca como neve, contrasta com a sua história de vida.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Hoje, penúltimo dia da II Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, tive o prazer de conhecê-la. Mesmo no meio de 3 mil militantes dos direitos das mulheres, Clara se sobressai.<br /><br />Uma pequena multidão a acompanha aonde quer que vá. Mais pela vontade e possibilidade de trocar algumas palavras e conhecer a sua amabilidade do que pelos cuidados de saúde que requer.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quando praticamente não existia o termo "machismo" para caracterizar esta dimensão da cultura hegemônica - visto que a profundidade de suas raízes anulava qualquer centelha questionadora -, Clara já era uma mulher independente, desafiadora dos padrões dominantes de sua época.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Viveu grande parte da vida na clandestinidade, fruto da opção revolucionária e da união com Carlos Marighella. É uma testemunha viva da tradição autoritária e anti-popular de um Estado que sempre serviu - e continua servindo - de agente promotor dos interesses de uma elite que não sabe o que significa a palavra democracia.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Clara Charf também é testemunha do tipo de tratamento destinado pelo Estado a quem se opõe à (des)ordem vigente. Subversivos, terroristas, comunas, vermelhos, radicais, xiitas, baderneiros, criminosos ou, no outro extremo da desqualificação, idealistas, utópicos, românticos ou nefelibatas... todas aquelas pessoas que, em algum momento, se enquadrarem nestas definições, sabem o peso da mão não tão invisível do Estado.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Com Clara, bastaram os poucos minutos em que conversamos para que eu sentisse com o próprio coração o significado das palavras que já haviam me dito sobre esta mulher doce e de imensa estatura moral.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Falei-lhe a respeito do mestre e amigo Flavio Valente:</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">- Ele foi morar na Alemanha e deixou comigo um presente que muito me honra, recebido de suas mãos, quando esteve em sua casa, em Havana, o Poesia Trunca. <span style="font-size:85%;"><span style="font-style: italic;">[extensa coletânea de poesias de militantes revolucionários latino-americanos, publicada apenas em Cuba, pela Casa das Américas]</span></span></span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Ontem (sábado) e hoje estive na Conferência, revendo amigas queridas que moram longe e colhendo assinaturas para uma moção de apoio à realização da I Conferência Nacional </span><span style="font-family:trebuchet ms;">de Comunicação. Duas tardes com muitas histórias, muita energia positiva recebida e percebida e intensa renovação da disposição.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Transmito o recado ao Flavio e guardo na memória da alma o sorriso e o sentimento de doçura e paz que apenas quem se aproxima daquela pequenina senhora pode saber o gosto exato.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >PS: Ganhei o Poesia Trunca do Flavio e assumi o compromisso de socializar para o mundo as pérolas nele reunidas. Em breve ele estará disponível na rede.</span><br /><br /></div>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-15808642632778239012007-08-11T17:14:00.000-03:002007-08-11T17:18:49.419-03:00Janela sobre as proibições<span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Na parede de um botequim em Madri, um cartaz avisa: proibido cantar.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: é proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">*****</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Dedicado à inspiradíssima amiga Nanda Barreto.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Retirado do "As palavras andantes", obra magnífica talhada a quatro mãos: duas do Galeano, escrevendo, duas do J. Borges, desenhando.</span><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheYo14-GGYj5RcF067FaJ-m8jtHeEFgkpfSgqqEJgEXRk1Dont3g88ldMEkkufQdOfsSTbq3IBII8D6OjBJ_oAvbW9lJjwllD5hfspuaYZbA9VTuJnHWoMlKks3LzSs-c8Cdn9Cg/s1600-h/JBorges_forro.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheYo14-GGYj5RcF067FaJ-m8jtHeEFgkpfSgqqEJgEXRk1Dont3g88ldMEkkufQdOfsSTbq3IBII8D6OjBJ_oAvbW9lJjwllD5hfspuaYZbA9VTuJnHWoMlKks3LzSs-c8Cdn9Cg/s320/JBorges_forro.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5097539819157514770" border="0" /></a><span style="font-family:trebuchet ms;">E, para quem acha idealista esse texto do Galeano, vale dar uma lida nessa notícia:</span><br /><a href="http://educaterra.terra.com.br/cgi-bin/index_frame/educacao/noticias/2006/10/19/002.htm"><span style="font-family:trebuchet ms;">http://educaterra.terra.com.br/cgi-bin/index_frame/educacao/noticias/2006/10/19/002.htm<br /><br /></span></a>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-20445348512117265652007-08-11T15:57:00.000-03:002013-09-08T20:53:21.271-03:00<h2>
<span style="color: #666666; font-family: lucida sans unicode,lucida; font-size: 85%;"><st1:verbetes><span new="" roman="" style="font-size: 12;" times="" windowtext=""><span style="color: #cc0000; font-size: 180%; font-weight: bold;">A fronteira da arte</span></span></st1:verbetes></span></h2>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaQ8MTLUMsq5cdt1YGwJYu7_nAl2gUsT7kcK5scz2fiyffy77sO_q4_Oxly5s0KoMI1e7uMCrQPcW-6tUDWidFjqraKEJHlltGRkDb0yQwyQnvE-WB4BWwN9-vf0h-NmHvLZ2eXg/s1600/minolta.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="color: #cc0000;"><img border="0" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaQ8MTLUMsq5cdt1YGwJYu7_nAl2gUsT7kcK5scz2fiyffy77sO_q4_Oxly5s0KoMI1e7uMCrQPcW-6tUDWidFjqraKEJHlltGRkDb0yQwyQnvE-WB4BWwN9-vf0h-NmHvLZ2eXg/s200/minolta.jpg" width="200" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="color: black; font-family: lucida sans unicode,lucida; text-align: left;">
<span style="color: #cc0000;">Foi a batalha mais longa de todas que se seguiram em Tuscatlán ou em qualquer outra região de El Salvador. Começou à meia-noite, quando as primeiras granadas caíram das montanhas, e durou toda a noite e foi até a tarde do dia seguinte. Os militares diziam que Cinquera era inexpugnável. Os guerrilheiros tinham atacado quatro vezes, e quatro vezes tinham fracassado. Na quinta vez, quando foi erguida a bandeira branca no mastro do quartel-general, os tiros para o alto começaram os festejos.</span></div>
<span style="color: black; font-family: Verdana; font-size: 85%;"><span style="color: #cc0000;"><br />Julio Ama, que lutava e fotografava a guerra, andava caminhando pelas ruas. Levava seu fuzil na mão e a câmera, também carregada e pronta para disparar, pendurada no pescoço. Andava Julio pelas ruas poeirentas, procurando dos irmãos gêmeos. Esses gêmeos eram os únicos sobrevivientes de uma aldeia exterminada pelo exército. Tinham dezesseis anos. Gostavam de combater ao lado de Julio; e nas entre-guerras, ele os ensinava a ler e a fotografar. No turbilhão daquela batalha, Julio tinha perdido os gêmeos, e agora não os via entre os vivos ou entre os mortos.<br /><br />Caminhou através do parque. Na esquina da igreja, se meteu-se numa viela. E então, finalmente, encontrou-os. Um dos gêmeos estava sentado no chão, de costas contra um muro. Sobre seus joelhos, jazia o outro, banhado em sangue; e aos pés, em cruz, estavam os dois fuzis.<br /><br />Julio se aproximou, e talvez tenha dito alguma coisa. O gêmeo que vivia não disse nada, nem se moveu: estava lá, mas não estava. Seus olhos, que não pestanejavam, olhavam sem ver, perdidos em algum lugar, em nenhum lugar; e naquela cara sem lágrimas estavam a guerra inteira e a dor inteira.<br /><br />Julio deixou seu fuzil no chão e empunhou a câmera. Rodou o filme, calculou num instante a luz e a distância, e colocou a imagem em foco. Os irmãos estavam no centro do visor, imóveis, perfeitamente enquadrados contra o muro recém-mordido pelas balas.<br /><br />Julio ia fazer a foto de sua vida, mas o dedo não quis. Julio tentou, voltou a tentar, e o dedo não quis. Então baixou a câmera, sem apertar o botão, e se retirou em silêncio.<br /><br />A câmera, uma Minolta, morreu em outra batalha, afogada pela chuva, um ano mais tarde.</span><br /><br /><i>Eduardo Galeano, O Livro dos Abraços</i></span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-80398649189030873322007-07-24T02:27:00.000-03:002007-07-24T02:33:49.156-03:00Esse mundo que chamam de pós-moderno...<span style="font-family: trebuchet ms;">Para a amiga Natasha, precisa com as palavras e espontânea nas ações.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Todos retirados do maravilhoso "O livro dos abraços".</span><br /><br /><span style="font-weight: bold; font-family: trebuchet ms;">A fome/2</span><o:p style="font-family: trebuchet ms;"></o:p><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Um sistema de desvinculo: Boi sozinho se lambe melhor... O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante. O outro é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada. O sistema, que não dá de comer, tampouco dá de amar: condena muitos à fome de pão e muitos mais à fome de abraços.</span><br /><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">***</span><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><o:p><br /></o:p><span style="font-weight: bold;">A desmemoria/2</span><o:p></o:p><br /><br />O medo seca a boca, molha as mãos e mutila. O medo de saber nos condena à ignorância; o medo de fazer nos reduz à impotência. A ditadura militar, medo de escutar, medo de dizer, nos converteu em surdos e mudos. Agora a democracia, que tem medo de recordar, nos adoece de amnésia; mas não se necessita ser Sigmund Freud para saber que não existe o tapete que possa ocultar a sujeira da memória.<br /><o:p><br /><br />***<br /><br /><br /></o:p><span style="font-weight: bold;">A civilização do consumo<br /><br /></span><o:p></o:p>Às vezes, no final da temporada de verão, quando os turistas iam embora de Calella, ouviam-se uivos vindos do morro. Eram os clamores dos cachorros amarrados nas árvores. Os turistas usavam os cachorros, para alívio da solidão, enquanto as férias duravam, e depois, na hora de partir, os cachorros eram amarrados morro acima, para que não seguissem os turistas que partiam.<br /><br /></p>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-39206553951974966822007-07-02T00:30:00.000-03:002007-07-02T00:33:50.893-03:00Isadora<span style="font-family:trebuchet ms;">Para todas as pessoas que, também dançando, celebram a alegria de viver.</span><br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Isadora</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Descalça, despida, envolvida apenas pela bandeira argentina, Isadora Duncan dança o hino nacional.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Comete esta ousadia numa noite de 1916, num café de estudantes de Buenos Aires, e na manhã seguinte todo mundo sabe: o empresário rompe o contrato, as boas famílias devolvem suas entradas ao Teatro Cólon e a imprensa exige a expulsão imediata desta pecadora norte-americana que veio à Argentina para macular os símbolos pátrios.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Isadora não entende nada. Nenhum francês protestou quando ela dançou a marselhesa com um xale vermelho como traje completo. Se é possível dançar uma emoção, se é possível dançar uma idéia, por que não se pode dançar um hino?</span><br /><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" >Liberdade ofende. Mulher de olhos brilhantes, Isadora é inimiga declarada da escola, do matrimônio, da dança clássica e de tudo aquilo que engaiole o vento. Ela dança porque dançando goza, e dança o que quer, quando quer e como quer, e as orquestras se calam frente à música que nasce de seu corpo.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eduardo Galeano, Memória do Fogo III - O Século do Vento<br /><br /></span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-34589936.post-24660476341873460522007-07-01T23:27:00.000-03:002007-07-02T00:27:33.222-03:00Dizem os índios<span style="font-family:trebuchet ms;">Dedico esse a Gustavo Gindre, brilhante companheiro do Intervozes, que sempre faz referência à idéia do texto abaixo.<br /><br />Em suas falas, Gustavo costuma fazer uma anologia instigante entre o capitalismo presente e os primórdios deste modelo de sociedade. Hoje, a batalha que se trava na esfera da comunicação, em torno da transformação definitiva do conhecimento, patrimônio da humanidade, em mercadoria, acima de qualquer outra dimensão. Ontem, a batalha, repassada nas nossas escolas como processo "natural" da "evolução humana", para transformar a terra em produto comercializável, algo completamente impensável alguns poucos séculos atrás, e não apenas pelos nativos do Novo Continente.<br /><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">Dizem os índios</span></span><br /><span style="font-style: italic;font-family:trebuchet ms;" > </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-style: italic;">Que tem dono a terra? Como assim? Como se há de vender? Como se há de comprar? Se ela não nos pertence... Nós somos dela. Seus filhos somos. Assim sempre, sempre. Terra viva. Como cria os vermes, assim nos cria. Tem ossos e sangue. Tem leite, e nos dá de mamar. Tem cabelos, pasta, palha, árvores. Ela sabe parir batatas. Faz nascer casas. Gente, faz nascer. Ela cuida de nós e nós cuidamos dela. Ela bebe chicha, aceita nosso convite. Filhos seus somos. Como há de vender-se? Como há de comprá-la?</span><br /><br />Eduardo Galeano</span><span style="font-family:trebuchet ms;">, </span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-style: italic;">Memória do Fogo I – Os Nascimentos</span>. p.263</span><br /><br /><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" ></span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" >Fontes:<br />- Gow, Rosalind, y Barnabé Condori: <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">Kay Pacha</span>, Cuzco, Centro de Estudios Rurales Andinos, 1976.<br /></span><span style=";font-family:trebuchet ms;font-size:85%;" >- Arguedas, José Maria (Con F. Izquierdo), <span style="font-style: italic; font-weight: bold;">Mitos, leyendas y cuentos peruanos</span>, Lima, Casa de La Cultura, 1970.<br /><br /></span><span style=""></span>Rogério Tomaz Jr.http://www.blogger.com/profile/08352453438766071473noreply@blogger.com0