(Pablo Neruda)
Eu me declaro culpado de não ter
feito com estas mãos que me deram,
uma vassoura.
Por que não fiz uma vassoura?
Por que me deram mãos?
Para que me serviram
se só vi o rumor do cereal,
se só tive ouvidos para o vento
e não recolhi o fio
da vassoura, verde ainda na terra,
e não pus para secar os talos ternos
e não os pude unir
num feixe áureo
e não juntei um caniço de madeira
à saia amarela até dar uma vassoura aos caminhos?
Assim foi:
não sei como
me passou a vida
sem aprender, sem ver,
sem recolher e unir
os elementos.
Nesta hora não nego
que tive tempo,
tempo,
mas não tive mãos,
e assim, como podia
aspirar com razão à grandeza
se nunca fui capaz
de fazer
uma vassoura,
uma só,
uma?