quarta-feira, abril 04, 2007

Elas

"Atrás de todo grande homem, existe uma mulher". Freqüente homenagem, duvidoso elogio: reduz a mulher à condição de encosto de cadeira.

A função tradicional: a mulher é filha devota, abnegada esposa, mãe sacrificada, viúva exemplar. Ela obedece, decora, consola e cala. Na história oficial, esta sombra fiel só merece silêncio. No máximo, outorga-se uma ou outra menção às senhores dos próceres. Mas na história real, outra mulher surge entre os barrotes da gaiola. Às vezes, não há mais remédio a não ser reconhecer a sua existência. É o caso de sóror Juana Ines de la Cruz, que nem ela própria pôde evitar tão alto e perturbador talento, ou Manuela Sáenz e sua vida fulgurante.

Mas, isso sim: nada se diz, nem de passagem, das capitãs negras ou índias que propiciaram tremendas tundas às tropas coloniais antes das guerras de independência. Em honrosa exceção a esta lei do silêncio, a Jamaica reconheceu Nanny como heroína nacional: Nanny, a escrava bravia, metade mulher e metade deusa, que querendo liberdade encabeçou os negros fugitivos de Barlovento e humilhou o exército inglês, há dois séculos e meio.

Eduardo Galeano, Nós dizemos não.

PS: Dedicado à querida Gabi, autêntica representante da TFM (risos), que muito tem me escutado e me falado.

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