terça-feira, janeiro 29, 2008
Verdades e mentiras sobre o mundo
Num encontro na Itália, em 2004, Eduardo Galeano fala sobre alguns personagens do teatro global do bem e do mal.
sábado, janeiro 19, 2008
A dignidade da arte
Um dos incontáveis textos do Galeano que me emocionam sempre que releio ou relembro, esse abaixo incita várias reflexões...
A dignidade da arte
Eu escrevo para os que não podem me ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, não sabem ler ou não tem com o quê.
Quando chega o desânimo, me faz bem recordar uma lição de dignidade da arte que recebi há anos, num teatro de Assis, na Itália. Helena e eu tínhamos ido ver um espetáculo de pantomima, e não havia ninguém. Ela e eu éramos os únicos espectadores. Quando a luz se apagou, juntaram-se a nós o lanterninha e a mulher da bilheteria. E, no entanto, os atores, mais numerosos que o público, trabalharam naquela noite como se estivessem vivendo a glória de uma estréia com lotação esgotada. Fizeram sua tarefa entregando-se inteiros, com tudo, com alma e vida; e foi uma maravilha.
Nossos aplausos ressoaram na solidão da sala. Nós aplaudimos até esfolar as mãos.
Eduardo Galeano - O livro dos abraços
Para a amiga e vizinha Luanne, para os momentos de crise no casamento (com a comunicação... rs).
quinta-feira, janeiro 10, 2008
Micaela
"Líder das tropas de Amaru II, casada com ele desde os 15 anos. Era mais radical que Amaru, aconselhando- o a tomar a cidade de Cusco, em vez de esperar a conciliação, mesmo que custasse a vida dos indígenas que apoiavam os espanhóis. Amaru II, porém, manteve as tropas recuadas, o que permitiu a reorganização do exército oficial, que exterminou a resistência. Foi presa e assassinada cruelmente, aos 36 anos". [Reportagem da Agência Brasil de Fato]
Outro texto bem interessante sobre a guerreira pode ser lido aqui.
Mais uma de tantas grandiosas figuras históricas da nossa América que não é citada na História ensinada a nossas crianças. Mas isso ainda será mudado.
Micaela
Na guerra dos índios, que fez ranger as montanhas dos Andes com dores de parto, Micaela Bastidas não teve descanso nem consolo.
Essa mulher de pescoço de pássaro percorria as terras arranjando mais gente e enviava à frente novas hostes e escassos fuzis, a luneta que alguém tinha perdido, folhas de coca e milho verde.
Galopavam os cavalos, incessantemente, levando e trazendo através das serras suas ordens, salvo-condutos, relatórios e cartas. Numerosas mensagens levou a Túpac Amaru, apressando-o a lançar suas tropas sobre Cusco de uma vez por todas, antes que os espanhóis fortalecessem as defesas e se dispersassem, desanimados, os rebeldes. Chepe, escrevia, Chepe, meu muito querido: Bastantes advertências te dei...
Puxada pelo rabo de um cavalo, entra Micaela na Praça Maior de Cusco, que os índios chamam Praça dos Prantos. Ela vem dentro de um saco de couro, desses que carregam mate do Paraguai. Os cavalos arrastam também, rumo ao cadafalso, Túpac Amaru e Hipólito, o filho dos dois. Outro filho, Fernando, olha.
Eduardo Galeano
Retirado da coletânea "Mulheres", mas originalmente publicado no segundo volume da trilogia Memória do Fogo (As caras e as máscaras).