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Para os povos cuja identidade foi quebrada pelas sucessivas culturas da conquista e cuja exploração impiedosa serve ao funcionamento da maquinaria do capitalismo mundial, o sistema gera uma "cultura de massa". Cultura para massa, deveríamos dizer, definição mais adequada a esta arte degradada de circulação massiva que manipula as consciências, oculta a realidade e esmaga a imaginação criadora. Não serve, certamente, à revelação da identidade, já que é um meio de apagá-la ou deformá-la, para impor modos de vida e pautas de consumo que se difundem massivamente através dos meios de comunicação.
Chama-se "cultura nacional" a cultura da classe dominante, que vive uma vida importada e se limita a copiar, com mau gosto e falta de jeito, a chamada "cultura universal" ou o que por isso entendem os que a confundem com a cultura dos países dominantes.
Em nosso tempo, era dos mercados múltiplos e das corporações multinacionais, internacionalizou-se a economia e também a cultura, a "cultura de massa", graças ao desenvolvimento acelerado e à difusão massiva dos meios. Os centros de poder nos exportam máquinas e patentes e também ideologia.
Se na América Latina o gozo dos bens terrenos está reservado a poucos, é preciso que a maioria se resigne a consumir fantasias. Vendem-se ilusões de riqueza aos pobres e de liberdade aos oprimidos, sonhos de triunfo aos vencidos e de poder aos fracos. Não é preciso saber ler para consumir as apelações simbólicas que a televisão, o rádio e o cinema difundem para justificar a organização desigual do mundo.
Eduardo Galeano, A descoberta da América (que não houve).
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