
É uma bela iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Homenageia a grande lutadora Margarida Alves e estimula o debate sobre as questões de gênero no campo, tão sufocadas pelo machismo dominante quanto as próprias mulheres em sua realidade cotidiana.
Pesquisa da Fundação Perseu Abramo aponta que uma em cada cinco brasileiras já foi vítima de violência doméstica.
E a cada quinze segundos uma mulher é espancada no país que trata como mercadoria o corpo feminino e "enaltece" uma parte específica dele como "preferência nacional", tomando por "nacional" a preferência de menos da metade da população.
Margarida, além desse tipo de violência física e simbólica do dia-a-dia, também foi vítima da política dos senhores da Casa Grande, que hoje tentam disfarçar suas práticas posando de modernos empresários, sob a alcunha de agronegócio.
Ontem fui à reunião que definiu os resultados do prêmio (matéria aqui) e, quando a conversa abordou a violência doméstica, lembrei do texto abaixo, lido há poucos dias.
Perigo no ar
A rádio de Paiwas nasceu no centro da Nicarágua, às vésperas do século XXI.
O programa de maior audiência ocupa as madrugadas: “A bruxa mensageira” acompanha milhares de mulheres e mete medo em milhares de homens.
Às mulheres, a bruxa apresenta amigos desconhecidos, como esse tal de Papanicolau e a senhora Constituição. E fala de seus direitos, violência zero na rua, na casa e também na cama, e pergunta a elas:
- Como foi sua noite? Como foi tratada? Deu com prazer ou foi meio à força?
E os homens são denunciados com nome e sobrenome quando violam ou batem em suas mulheres. Pelas noites, a bruxa vai de casa em casa, em vôo de vassoura; e nas madrugadas, acaricia sua bola de cristal e adivinha segredos na frente do microfone:
- Ahá! Você está por aí, estou vendo você por aí! Batendo na sua mulher. Que barbaridade, que horror!
A rádio recebe e difunde as denúncias que os policiais não atendem. Os policiais estão ocupados com os ladrões de gado, e uma vaca vale mais que uma mulher.
Eduardo Galeano, Espelhos – uma história quase universal
Dedicado à queridíssima Mariana Pires, amiga e companheira de luta nas trincheiras da comunicação e das mulheres, que estudou um programa feito por mulheres na atormentada Zona da Mata de Pernambuco.
Não posso deixar de lembrar o belo texto "Cinco mulheres", sobre uma das ações históricas da guerreira boliviana Domitila Chungara e suas companheiras.
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