segunda-feira, março 02, 2009

Marajó, Amazonas...

Estive durante cinco dias em Marajó, Pará, a trabalho. Mais precisamente em São Sebastião da Boa Vista, sul da ilha. Nada de búfalos. Muito açaí, muita água (dos rios e das chuvas) e um ambiente de muita alegria e magia. A viagem coincidiu com a lua cheia de fevereiro. Inesquecível.

Mais detalhes, num outro blog que estou ensaiando, o Brasil mais profundo.

Alguns (dos mais de seis mil - meus, do Bira e do Leonardo Melgarejo) registros de lá podem ser vistos aqui. Nem somadas, as imagens conseguirão expressar o que vivemos aqueles dias.

Mas deixo aqui dois textos do livro novo do Galeano, "Espelhos - uma história quase universal", que li na chegada a São Sebastião, no bar da dona Silvana, o Porto Seguro. Bastante adequados à ocasião, ressalto.

Amazonas

As amazonas, temíveis mulheres, tinham lutado contra Hércules quando ele ainda era Heracles, e contra Aquiles na Guerra de Tróia. Odiavam os homens e cortavam o seio direito para que suas flechadas fossem mais certeiras.

O grande rio que atravessa o corpo das Américas de lado a lado se chama Amazonas por obra e graça do conquistador espanhol Francisco de Orellana.

Ele foi o primeiro europeu que o navegou, lá de dentro da terra até mar afora. Voltou para a Espanha com um olho a menos, e contou que seus bergantins tinham sido crivados a flechadas por mulheres guerreiras, que lutavam nuas, rugiam como feras e quando sentiam fome de amores seqüestravam homens, os beijavam na noite e os estrangulavam ao amanhecer.

E para dar prestígio grego ao seu relato, Orellana disse que elas eram aquelas amazonas adoradoras da deusa Diana, e com seu nome batizou o rio onde tinham seu reino.

Os séculos se passaram. Das amazonas, nunca mais ninguém soube. Mas o rio continua com o seu nome, e embora a cada dia o envenenem os pesticidas, os adubos químicos, o mercúrio das minas e o petróleo dos barcos, suas águas continuam sendo as mais ricas do mundo em peixes, aves e histórias.


Foto: Ubirajara Machado/BP
Quantos sabem a origem do nome do rio Amazonas?

Servos e senhores

O cacau não precisa do sol. Porque o traz por dentro.

Do sol de dentro nascem o prazer e a euforia que o chocolate dá.

Os deuses tinham o monopólio do espesso elixir, lá nas alturas, e nós, os humanos, estávamos condenados a ignorá-lo.

Quetzalcóatl roubou-o para os toltecas. Enquanto os outros deuses dormiam, ele pegou umas sementes de cacau e as escondeu em sua barba e por um longo fio de aranha desceu até a terra e as deu de presente à cidade de Tula.

A oferenda de Quetzalcóatl foi usurpada pelos príncipes, pelos sacerdotes e pelos chefes guerreiros.

Apenas os seus paladares foram dignos de recebê-la.

Os deuses do céu tinham proibido o chocolate aos mortais, e os donos da terra o proibiram para as pessoas comuns e correntes.


Foto: Leonardo Melgarejo
Com o cacau que a dona Silvana trouxe do seu quintal.

Eduardo Galeano - "Espelhos - uma história quase universal".

Pra quem é fã da língua de Castella, vale ler essa resenha do livro, publicada pelo mexicano La Jornada.

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3 comentários:

Unknown disse...

A Amazônia tem muitas histórias, muitas pessoas com uma história de vida incrível.

zema ribeiro disse...

caralho! que bar cinematográfico! abração!

Ela Queima disse...

Adorei o relato da viagem!
Vou acompanhar teus escritos por aqui...
Beijo