terça-feira, março 17, 2009

Perigo no ar - mulheres em luta!

Ontem foi divulgado o resultado da terceira edição do Prêmio Margarida Alves de Estudos de Rurais e Gênero, modalidade Ensaio Acadêmico.

É uma bela iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Homenageia a grande lutadora Margarida Alves e estimula o debate sobre as questões de gênero no campo, tão sufocadas pelo machismo dominante quanto as próprias mulheres em sua realidade cotidiana.

Pesquisa da Fundação Perseu Abramo aponta que uma em cada cinco brasileiras já foi vítima de violência doméstica.

E a cada quinze segundos uma mulher é espancada no país que trata como mercadoria o corpo feminino e "enaltece" uma parte específica dele como "preferência nacional", tomando por "nacional" a preferência de menos da metade da população.

Margarida, além desse tipo de violência física e simbólica do dia-a-dia, também foi vítima da política dos senhores da Casa Grande, que hoje tentam disfarçar suas práticas posando de modernos empresários, sob a alcunha de agronegócio.

Ontem fui à reunião que definiu os resultados do prêmio (matéria aqui) e, quando a conversa abordou a violência doméstica, lembrei do texto abaixo, lido há poucos dias.

Perigo no ar

A rádio de Paiwas nasceu no centro da Nicarágua, às vésperas do século XXI.

O programa de maior audiência ocupa as madrugadas: “A bruxa mensageira” acompanha milhares de mulheres e mete medo em milhares de homens.

Às mulheres, a bruxa apresenta amigos desconhecidos, como esse tal de Papanicolau e a senhora Constituição. E fala de seus direitos, violência zero na rua, na casa e também na cama, e pergunta a elas:

- Como foi sua noite? Como foi tratada? Deu com prazer ou foi meio à força?

E os homens são denunciados com nome e sobrenome quando violam ou batem em suas mulheres. Pelas noites, a bruxa vai de casa em casa, em vôo de vassoura; e nas madrugadas, acaricia sua bola de cristal e adivinha segredos na frente do microfone:

- Ahá! Você está por aí, estou vendo você por aí! Batendo na sua mulher. Que barbaridade, que horror!

A rádio recebe e difunde as denúncias que os policiais não atendem. Os policiais estão ocupados com os ladrões de gado, e uma vaca vale mais que uma mulher.

Eduardo Galeano, Espelhos – uma história quase universal

Dedicado à queridíssima Mariana Pires, amiga e companheira de luta nas trincheiras da comunicação e das mulheres, que estudou um programa feito por mulheres na atormentada Zona da Mata de Pernambuco.

Não posso deixar de lembrar o belo texto "Cinco mulheres", sobre uma das ações históricas da guerreira boliviana Domitila Chungara e suas companheiras.

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6 comentários:

m a r i p i r e s disse...

Querido, esse texto do Galeano é mesmo fantástico! Vou repassar pras mulheres do Rádio Mulher =)

Beijão e saudações feministas!

Anônimo disse...

Quero esse texto da rádio!

Anônimo disse...

é companheir@s, infelizmente continuamos sendo surpreendid@s por fatos aterradores, que nao ocorrem somente no sertão isolado, mas nas nossas rodas de convivência, protagonizados por homens, se assim podem ser chamados, que tiveram todas as oportunidades na vida e inclusive constam na lista de filiados de partidos de "esquerda". Isso é aterrador e não podemos assistir compassivos. Esse tema sempre deverá estar em nossas reflexões, por que a causa está longe de ser somente a ignorância e a segregação social. Beijos

Marcelo Arruda disse...

Grande texto, cabra....

SAM disse...

De facto, a Humanidade já tem tantos anos de existência e, ainda hoje, é incapaz de conseguir dar um tratamento justo às suas "duas metades".

Mas são prémios como este, programas de rádio como em Nicarágua, blogs como aqui, pessoas, uma a uma, que vão fazendo o seu trabalho e poderão/poderemos acelerar a mudança para melhor desta triste tragédia.

Um abraço

SAM disse...
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