segunda-feira, janeiro 01, 2007

O amor

Em 2007 serei bem mais ativo na atualização do(s) blog(s).

Rogério Tomaz Jr.

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O amor


Na selva amazônica a primeira mulher e o primeiro homem se olharam com curiosidade. Era estranho o que tinham entre as pernas.

- Te cortaram? - perguntou o homem.
- Não - disse ela - Sempre fui assim.

Ele examinou-a de perto. Coçou a cabeça. Ali havia uma chaga aberta. Disse:

- Não comas mandioca, nem bananas, e nenhuma fruta que se abra ao amanhecer. Eu te curarei. Deita na rede, e descansa.

Ela obedeceu. Com paciência bebeu os mingaus de ervas e se deixou aplicar as pomadas e os ungüentos. Tinha de apertar os dentes para não rir, quando ele dizia:

- Não te preocupes.

Ela gostava da brincadeira, embora começasse a se cansar de viver em jejum, estendida em uma rede. A memória das frutas enchia sua boca de água.

Uma tarde o homem chegou correndo através da floresta. Dava saltos de euforia e gritava:

- Encontrei! Encontrei!

Acabava de ver o macaco curando a macada na copa de uma árvore.

- É assim - disse o homem, aproximando-se da mulher.

Quando acabou o longo abraço, um aroma espesso, de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, que jaziam juntos, se desprendiam vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta a formosura que os sóis e os deuses morriam de vergonha.


Eduardo Galeano, Memória do Fogo I - Os nascimentos

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