O filósofo argentino Tato Bores, que atuava como cômico, soube formular esta doutrina muito antes de que os ideólogos a promovessem, os tecnocratas a implementassem e os governos a adotassem no chamado terceiro mundo:
— Vamos dar milho aos aposentados - aconselhou Dom Tato — ao invés de dá-lo às pombas.
A santa mais chorada do fim do século, a princesa Diana, encontrou sua vocação na caridade, depois de ter sido abandonada pela mãe, atormentada pela sogra, enganada pelo marido e traída pelos amantes. Quando morreu, Diana presidia oitenta e uma organizações de caridade pública. Se estivesse viva, poderia muito bem assumir o Ministério da Economia de qualquer governo do sul do mundo. Por que não? Afinal, a caridade consola, mas não questiona.
— Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo - disse o arcebispo brasileiro Hélder Câmara. — E quando pergunto por que eles não têm comida, me chamam de comunista.
Diferentemente da solidariedade, que é horizontal e praticada de igual para igual, a caridade é praticada de cima para baixo, humilha quem a recebe e jamais altera um milímetro as relações de poder: na melhor das hipóteses, um dia poderá haver justiça, mas lá no céu. Aqui na terra, a caridade não perturba a injustiça. Só se propõe a disfarçá-la.
Eduardo Galeano, De Pernas pro ar (a escola do mundo ao avesso).
2 comentários:
Olá!!!
Você sabe que divido com você o gosto por Galeano, não é?
Ainda não li tudo o que ele escreveu, mas de acordo com o que vou descobrindo, me vejo cada vez mais identificada com o que ele diz e, sobretudo, com a mneira de dizer.
Um abraço e perabéns pelo trabalho.
Adorei :)
Como sempre o Eduardo Galeano nos impressiona, crítico de grande sucesso, boa sorte para ti, Edu !
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