Dedico esse a Gustavo Gindre, brilhante companheiro do Intervozes, que sempre faz referência à idéia do texto abaixo.
Em suas falas, Gustavo costuma fazer uma anologia instigante entre o capitalismo presente e os primórdios deste modelo de sociedade. Hoje, a batalha que se trava na esfera da comunicação, em torno da transformação definitiva do conhecimento, patrimônio da humanidade, em mercadoria, acima de qualquer outra dimensão. Ontem, a batalha, repassada nas nossas escolas como processo "natural" da "evolução humana", para transformar a terra em produto comercializável, algo completamente impensável alguns poucos séculos atrás, e não apenas pelos nativos do Novo Continente.
Dizem os índios
Que tem dono a terra? Como assim? Como se há de vender? Como se há de comprar? Se ela não nos pertence... Nós somos dela. Seus filhos somos. Assim sempre, sempre. Terra viva. Como cria os vermes, assim nos cria. Tem ossos e sangue. Tem leite, e nos dá de mamar. Tem cabelos, pasta, palha, árvores. Ela sabe parir batatas. Faz nascer casas. Gente, faz nascer. Ela cuida de nós e nós cuidamos dela. Ela bebe chicha, aceita nosso convite. Filhos seus somos. Como há de vender-se? Como há de comprá-la?
Eduardo Galeano, Memória do Fogo I – Os Nascimentos. p.263
Fontes:
- Gow, Rosalind, y Barnabé Condori: Kay Pacha, Cuzco, Centro de Estudios Rurales Andinos, 1976.
- Arguedas, José Maria (Con F. Izquierdo), Mitos, leyendas y cuentos peruanos, Lima, Casa de La Cultura, 1970.
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